Movimento católico lança apelo, com subscritores dos vários quadrantes, para reafirmar dignidade dos mais velhos e questionar modelos de institucionalização
Lisboa, 25 mai 2020 (Ecclesia) – A comunidade católica de Santo Egídio, com sede em Roma, lançou um alerta para a situação dos idosos em instituições, atingidos de forma particular pela pandemia de Covid-19, denunciando um “dramático número de mortes nos lares”.
“A Comunidade de Santo Egídio está preocupada com as tristes histórias dos massacres de idosos nos lares. Tudo isso não teria acontecido, se a ideia de que é possível sacrificar as vidas deles em favor dos outros não tivesse ganho força”, refere a nota do movimento, enviada hoje à Agência ECCLESIA.
A tomada de posição critica uma visão que “considera a vida do idoso como residual” e menos digna de ser protegida, num momento de crise sanitária.
“A sua maior vulnerabilidade, a idade avançada, outras possíveis patologias das quais são portadores justificariam uma forma de ‘seleção’ em favor dos mais jovens e dos mais saudáveis” alerta o documento.
Considerando que os idosos “estão em perigo”, a comunidade lança um apelo que já foi subscrito por personalidades como Andrea Riccardi, historiador e fundador da Comunidade de Santo Egídio; Romano Prodi, ex-presidente do Conselho de Ministros e da Comissão Europeia; Mark Eyskens, ex-primeiro-ministro belga; Hans Gert Pöttering, ex-presidente do Parlamento Europeu, Alemanha; o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha; ou Jürgen Habermas, filósofo alemão, entre outros.
Com este apelo, expressamos a nossa dor e indignação pelas demasiadas mortes de idosos nestes meses e desejamos uma revolta moral para que se mude de direção no tratamento dos idosos, para que, acima de tudo, os mais vulneráveis nunca sejam considerados um fardo, ou pior inúteis”.
Em Portugal, o apelo foi subscrito por Maria Antónia Palla, jornalista; Luís Miguel Cintra, encenador e ator; Alice Vieira, escritora; Leonor Xavier jornalista e escritora; Nélida Piñon, escritora.
O texto defende mudanças nos sistemas de saúde, perante a institucionalização sistemática dos mais velhos, falando numa “cultura do descarte”, denunciada pelo Papa Francisco, que “priva os idosos do direito de serem considerados pessoas, mas apenas um número e, nalguns casos, nem isso”.
“Acreditamos que é necessário reafirmar fortemente os princípios da igualdade de tratamento e do direito universal aos cuidados médicos, que foram conquistados ao longo dos séculos. É hora de dedicar todos os recursos necessários para salvaguardar o maior número de vidas e humanizar o acesso aos cuidados para todos”, aponta a Comunidade de Santo Egídio, num apelo para “reumanizar” as sociedades, realçando que “sem idosos não há futuro”.
OC