Falta de condições, partilha de celas e balneários aumentam perigo de contágio e votam «população esquecida pela sociedade» a maior fragilidade
Lisboa, 21 jan 2021 (Ecclesia) – O coordenador das capelanias prisionais no Patriarcado de Lisboa apelou ao início da vacinação dos reclusos contra a Covid-19 o mais rapidamente possível, para travar uma situação que considera “preocupante”.
“Não nos passa pelas mãos o poder executivo dessa decisão, mas tendo em conta a realidade do serviço prisional seria um passo forte, os reclusos e os agentes de segurança e educadores, o mundo prisional de forma geral, ser vacinado e facilitar os procedimentos que agora são difíceis”, afirmou à Agência ECCLESIA o padre José Luís Gonçalves, também capelão do Estabelecimento Prisional de Caxias e do Hospital Prisional de São João de Deus.
Os capelães prisionais têm manifestado a sua preocupação junto da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais para que uma população “frágil” e “muito esquecida da sociedade” seja vacinada em breve.
“Pelo sistema e condições das cadeias – não temos uma cela para cada recluso – trata-se de uma estrutura muito envelhecida, há partilha de espaços comuns que torna mais perigoso o risco de contágio. Há partilha de celas e balneário e é mais difícil manter o distanciamento necessário”, explica o padre José Luís Gonçalves.
O responsável fala numa situação preocupante e pede “urgência”.
“Percebo as populações mais fragilizadas, em especial os idosos nos lares. Não tenho noção do todo para poder tomar decisão com essa gravidade mas a população prisional padece com igual urgência”, afirma.
O padre José Luís Gonçalves fala de uma população persistentemente esquecida pela sociedade, que esconde não apenas os reclusos mas todos os que trabalham nas prisões.
“Olhamos para as prisões como um espaço onde estão pessoas que merecem lá estar. Mas o desafio de uma sociedade com um herança judaico-cristã, e uma necessidade de cuidar dos seus cidadãos, é o de cuidar de todos os que estão impedidos de liberdade”, aponta.
A pandemia fez aumentar o esquecimento perante uma população que se vê afastada da família e cujo contacto com os capelães é feito por “carta”, “por telefone”, quando é solicitado, e com contactos “individuais”.
O capelão do Estabelecimento Prisional de Caxias e do Hospital Prisional de São João de Deus lamenta não poder ali celebrar uma Eucaristia “há meses”.
“Mercê do confinamento, a minha deslocação acontece quando é requerida pela direção, e em situações concretas com algum recluso. As cadeias ainda não têm a possibilidade de encontros pelos sistemas telemáticos. Há uma proposta de os reclusos nos poderem ligar, assumindo nós as despesas… Estamos a propor a criação de formas telemáticas para fazer o acompanhamento religioso também”, explica.
O responsável afirma a necessidade de “não se esquecer os reclusos” e trabalhar por uma pastoral de recuperação e reinserção.
“Muitos são feridos dos seus crimes e histórias de vida, têm relações precárias com a sociedade e família. Mesmo estando a pagar o seu crime contra a sociedade, não podem ser esquecidos nem marginalizados. Os agentes têm uma cultura de recuperação mas estamos ainda longe de poder dizer que temos uma realidade conseguida”, lamenta.
A pastoral penitenciária no Patriarcado de Lisboa acompanha 12 estabelecimentos prisionais, destinados a adolescentes, jovens e adultos, masculinos e femininos, numa população que ronda as cinco mil pessoas.
A vacinação dos profissionais de saúde dos serviços prisionais contra a Covid-19 arrancou esta quarta-feira, no Hospital Prisional de São João de Deus, em Caxias, e no Estabelecimento Prisional do Porto, em Custóias.
Numa fase seguinte serão vacinados os restantes funcionários da Direção Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais e os reclusos.
LS/OC