Covid-19: Bispo do Porto pede um «fortíssimo trabalho de campo» na aplicação da «bazuca europeia» (c/vídeo)

D. Manuel Linda alerta para o risco de Portugal se transformar no «país mais pobre da Europa»

Porto, 19 mar 2021 (Ecclesia) – O bispo do Porto disse em entrevista à Agência ECCLESIA que há “prioridades que não devem ser ignoradas” na aplicação da “bazuca europeia” e que é necessário um “fortíssimo trabalho de campo” para fazer chegar as ajudas onde são precisas.

“Tem de haver um fortíssimo trabalho de campo para ver, de facto, quais são os setores que precisam mais e como lhes fazer chegar [os apoios]”, afirmou D. Manuel Linda.

Numa entrevista emitida esta semana no programa Ecclesia, quando se completou um ano em que foi decretada a suspensão do culto público em Portugal, a começar pelas localidades de Lousada e Felgueiras, o bispo do Porto comentou a aplicação dos fundos europeus previstos no Plano de Recuperação e Resiliência, temendo que algumas pessoas que “não levem nada”.

“O grande drama que pode acontecer é que cada setor, para onde esse dinheiro vai ser canalizado, tenha os seus ‘espertinhos de serviço’, mais habilidosos para captar mais e outros que estejam menos informados e não levem nada”, afirmou.

D. Manuel Linda elencou algumas prioridades na aplicação da ajuda europeia, nomeadamente o combate à pobreza, a ferrovia e o apoio às pequenas e médias empresas.

“Portugal é historicamente dos países mais pobres da Europa e vamos ficar porventura, nos próximos anos, como o país mais pobre da Europa, porque a Europa do leste está a superar-nos”, disse D. Manuel Linda.

O bispo do Porto referiu também a necessidade de apostar nas vias de comunicação, nomeadamente a ferrovia, afirmando que “não se compreende que Portugal esteja isolado do resto da Europa numa altura em que a Europa aposta fortemente na ferrovia”.

Foto Diocese do Porto

D. Manuel Linda indicou também a prioridade de apoiar as “pequenas e médias empresas porque são as que, dentro do Portugal contemporâneo, criam mais postos de trabalho e ajudam que outras empresas possam subsistir”.

Entre as prioridades na aplicação dos fundos europeus, D. Manuel Linda afirmou também que o problema ecológico é “transversal a tudo o resto” e o investimento na sociedade digital não pode ignorar outros setores porque “não será a única a produzir riquezas”.

O bispo do Porto lembrou a crise no setor do turismo, nomeadamente no Porto, no Douro e em toda a região, onde está agora tudo “fechado”

“Cheguei a contar da minha janela 17 grandes barcos, provavelmente cheios de pessoas e, neste momento, zero. Esperamos melhores dias”, afirmou.

Com cafés, lojas e hotéis fechados, a construção civil é o “grande setor para a revitalização da economia”, referiu D. Manuel Linda.

Questionado sobre a atividade da parlamentar em Portugal, o bispo do Porto disse que “nunca é de excluir” uma crise política, na circunstância de nenhum partido ter maioria e pelo facto do governo se sustentar em apoios “formais e informais”, lembrando que é necessária uma “dimensão forte” de governo, no contexto da pandemia.

O bispo do Porto referiu-se ainda à realização das eleições autárquicas, previstas para o último trimestre deste ano de 2021, afirmando que as eventuais limitações impostas pela pandemia não levarão ao “desconhecimento” dos candidatos.

PR

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