Covid-19: Máscaras vieram para ficar, diz Patrício Leite

Comunidade médica lamenta falta de cuidado com a saúde mental e indica importância de caminho «educacional» para a resiliência

Foto: Lusa

Lisboa, 23 jul 2020 (Ecclesia) – O médico especialista em medicina geral e familiar Patrício Leite afirma que as máscaras, como forma de proteção, vieram para ficar e que isso será benéfico para nos proteger de outros vírus.

“Se fizermos como fazem os asiáticos nos invernos, acho que não faz mal nenhum. Até porque nos protege de outros vírus. A máscara não é má ideia”, explica à Agência ECCLESIA o especialista, co-autor do livro «Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia», da Paulinas editora.

O especialista em medicina geral e familiar acredita que a pandemia do Covid-19 vai ser controlada, mantendo, por isso, uma visão positiva dos acontecimentos e da descoberta de uma vacina que, sendo atualizada, poderá ajudar a “diminuir a mortalidade”.

“Ainda que se torne residual, um pouco endémica, não seria uma preocupação. O número de casos absolutos vai aumentando, mas dizemos que está controlada porque não aumenta exponencialmente. O futuro não se sabe, mas nota-se que está mais estabilizada. Ainda que fique sazonalmente endémica, não será um pânico mundial. Acredito que se vá descobrir uma vacina, mas que tenha de haver uma atualização da vacina periodicamente. Ainda que não conferisse uma imunidade completa bastava diminuir a taxa de mortalidade”, indica.

Patrício Leite fala na importância de investir na “educação para a saúde”, privilegiando a “proximidade” dos cidadãos aos médicos de família, factor que ajuda a “tranquilizar” a população.

“Não é necessário proteção a mais nem a menos. De medidas preventivas, que incluo em educação para a saúde, destaco o afastamento e, depois, as máscaras. Quanto mais barreiras colocarmos melhor, e a máscara é uma barreira para quem a usa para os outros também. Quando tenho uma máscara lembro-me que vivemos uma época de contenção, se ela começar a ser usada todos os dias, passa a ser rotina. E enquanto não for rotina, faz-me afastar. Tem por isso um efeito físico mas também psicológico”, indica o especialista.

Co-autor do livro «Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia», onde assina um texto sobre o coronavirus e a vida, o médico especialista em medicina geral e familiar dá conta da alteração nos comportamentos que levou as pessoas “a afastarem-se fisicamente mas não psicologicamente” e até de uma “ambivalência” nas relações familiares.

Desde março Patrício Leite regista agravamentos em quem já assinalava patologias ansiosas e depressivas, com consequências na “ansiedade e humor”.

No artigo, o autor assinala que “nunca como agora se produziu tanta informação científica, num tão curto intervalo de tempo”, sintoma de uma comunidade científica a “servir bem a comunidade geral”, reconhecendo uma aproximação de “mundos” apesar de uma linguagem “muito própria e muito técnica”.

A médica psiquiatra Maria Antónia Frasquilho lamenta a falta de “cuidado” com a saúde mental que, em geral, a população manifesta.

“A maioria das pessoas não dá valor à saúde mental nem pensa que existe. Não têm o mesmo cuidado higiénico com a saúde mental do que têm com o seu corpo, com o que são e fazem, e com o que podem ajudar a construir”, explica a médica à Agência ECCLESIA.

Co-autrora da obra das Paulinas editora, Maria Antónia Frasquilho explica a importância da resiliência no ser humano, como fator de crescimento, sendo este um caminho educacional.

“A resiliência é educacional, não nascemos resilientes, tudo depende das nossas relações precoces, de como fomos apoiados no nosso desenvolvimento, como podemos formar a nossas capacidades, como fomos apoiados para mostrar o melhor de nós”, explica.

«Eu sou», «eu tenho», «eu posso» e «eu estou» – são afirmações de Maria Antónia Frasquilho como um caminho para a resiliência a que chama de “recursos de saúde mental”.

“A pessoa saber quem é e dignificar-se a ela própria; eu tenho não só coisas mas recursos internos para responder aos desafios; eu posso ter todos os recursos mas não ter possibilidade de colocar em prática as minhas decisões; estar no momento apropriado e compatível com o que devo e sei fazer”.

A saúde mental é “o ponto de partida para tudo”, quer em termos relacionais, como de desenvolvimento de funções ao longo da vida.

O programa Ecclesia na Antena 1 conversa com diferentes co-autores do livro «Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia» que refletem diversas perspetivas sobre o impacto do Covid-19 em Portugal e no mundo.

LS

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Agência ECCLESIA

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