Diretora Técnica da Casa de Abrigo, no Funchal, sublinha que o confinamento «distanciou as vítimas das redes de apoio»
Funchal, 06 mai 2020 (Ecclesia) – A diretora da Casa de Abrigo, do Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, no Funchal, acredita que “vão chegar mais pedidos de ajuda” porque o confinamento “distanciou as redes de apoio”.
“Acredito que vão chegar mais pedidos de ajuda, isto levou a um distanciamento físico das redes de apoio, seja de familiares, de amigos ou organizações, a vítima a estar 24 horas por dia com o agressor, leva a uma escala de conflitos em casa, como a gestão diária dos filhos e da casa, a perda de rendimentos, a insegurança financeira, tudo pode potenciar e originar novas situações de violência”, refere Magna Rodrigues, em declarações à Agência ECCLESIA.
A casa de abrigo tem capacidade para acolher 20 famílias, mulheres e crianças, estando neste momento com nove famílias, e a diretora explica que “a grande preocupação é ao nível psicológico”.
Temos tentado promover as atividades dos tempos livres porque são forma de garantir a estabilidade emocional, tem sido mais difícil. A partir de 16 março tivemos de restringir as saídas à rua e só na semana passada começaram a ir à rua, num passeio higiénico, porque também no mesmo edifício temos idosos, tem de existir uma preocupação acrescida a este nível”.
Magna Rodrigues conta ainda que as mulheres estão “mais ansiosas e stressadas”, muitas em situações precárias e fizeram um “reforço de acompanhamento psicológico”, com a integração de uma psicóloga na equipa.
“Temos de desconstruir medos e ansiedades, as mulheres estão mais ansiosas e stressadas, preocupadas com o seu futuro, algumas tiveram perda de rendimento e outras estão em situações de lay-off; temos o caso de uma desempregada, que estava a começar a procurar emprego, e a situação de confinamento dificulta a inserção do mercado de trabalho, vamos levar muito tempo até à sua otimização”, disse.
Também as crianças que estão na casa abrigo têm de acompanhar a telescola, o que se torna complicado por terem de ser as técnicas a acompanhar o ensino.
“Acabamos por ter crianças de diferentes anos na casa, mulheres com dificuldades ao nível de compreensão de textos ou da matemática, e lá estamos nós, os técnicos, neste caso eu e a psicóloga, que as ajudamos; aceder a plataformas online em que elas não conseguem sozinhas e temos de ser nós a ser ponte com os professores e a orientar e esclarecer dúvidas”, relata.
A diretora técnica referiu ainda a “implementação de um plano de contingência”, perante a pandemia que tiveram de “explicar às famílias e colaboradores a forma como tinham de proceder”.
Neste momento a casa abrigo vai receber uma família, “que passou já por um período de quarentena”, já tinha sido acompanhada e esta “será uma reentrada” na casa.
“Sinto que as vítimas até ao momento devem ter dificuldade em pedir ajuda porque estão a coabitar com o agressor mas estamos atentos e prontos a dar resposta, quer da segurança social, quer das IPSS e dos parceiros”, assume.
SN