Covid-19: «A grande preocupação não são as batas ou ventiladores, mas as pessoas, que não se formam de um dia para o outro» – padre Miguel Costa

Capelães em Braga acompanham presencialmente no Hospital e por telefone os muitos doentes que recuperam em casa

Foto: Lusa/EPA

Braga, 21 nov 2020 (Ecclesia) – O padre Miguel Costa, capelão no Hospital de Braga, destacou a preparação do estabelecimento de saúde e do “exército de formigas” que ali trabalha para responder à pressão crescente da pandemia da Covid-19.

“Quem está a trabalhar no Hospital não conta as horas extra mas sente-se muito comprometido com o bem do outro. A grande preocupação não são as batas ou os ventiladores são as pessoas que não se conseguem formar de um dia para o outro”, explica o sacerdote à Agência ECCLESIA.

Diariamente, o padre Miguel, a par do seu colega na capelania, o padre Adelino Domingues, segue os procedimentos para a proteção individual: máscara cirúrgica, bata, e álcool-gel são instrumentos habituais de trabalho.

“Quando subimos a outros níveis de intensidade, usamos uma máscara de maior filtragem, e se for a uma ala Covid, tenho de passar por uma sala para vestir outra bata, luvas de manga, colocar uma viseira, óculos, touca e botas. Ao sair há todo um protocolo muito rigoroso para tirar tudo, mais complicado, porque, teoricamente, pode estar tudo contaminado”, conta.

Todo o material que leva para a administração dos sacramentos é de uso individual.

O padre Miguel Costa não tem dúvidas ao afirmar que se sente mais seguro dentro do Hospital: “Sinto-me mais seguro no hospital do que no supermercado ou na rua. Aqui sei as regras e sei o controle que tenho de ter”, indica.

O sacerdote dá conta de um “exército de formigas a trabalhar pelo bem” para atender, em termos gerais, uma população de um milhão e duzentas mil pessoas.

“Os funcionários de limpeza, lavandaria, os que levam a alimentação, os técnicos de imagem que não saem dos gabinetes de Raio-X, as pessoas na administração e na gestão, nos recursos humanos e nos armazéns, são um exército de formigas a trabalhar pelo bem”, sublinha.

Na primeira fase da pandemia, recorda o capelão hospitalar, “os primeiros casos foram dramáticos”.

Ninguém estava prevenido, o medo e o receio de pegar a familiares era grande. Houve um trabalho grande da diocese e hotéis da cidade, para os trabalhadores descansarem sem terem de ir a casa. Nos primeiros dias houve profissionais que ficavam à espera do resultado ao teste, dentro dos carros, sem poderem ir a casa com medo de contaminar familiares”.

Na atual vaga da pandemia o sacerdote dá conta de maior preparação, embora de “maior gravidade perante o número de internamentos, atualmente nos 100, também as visitas “estão mais acessíveis”: “Começamos a ter outros limites, mas estamos preparados com planos de contingência”.

A capelania mantém o acompanhamento a doentes Covid-19 que estão em suas casas mas o padre Miguel Costa regista uma baixa na solicitação sacramental.

“Cada pessoa tem uma maneira diferente de lidar com a situação. Alguns não compreendem, pela idade, a situação em que estão. Outros têm noção, mas depende da positividade ou negatividade habitual na pessoa. Manifestam muitas preocupações com a família, há pacientes que têm familiares em casa também infetados. Há incerteza, alguns falam em abandono, mas quem está fora também se sente impotente porque chega à porta e não pode entrar”, dá conta.

O sacerdote manifesta preocupação com os doentes não-Covid que “por medo, não procuram os hospitais” e poderão receber “diagnósticos tardios”.

“Não sei que lições se vão tirar desta pandemia: alguns tirarão, outros vão voltar ao seu normal. Temos memória curta. Gostaria que houvesse uma evolução no pensar atitudes humanas, sentirmo-nos mais irmãos e corresponsáveis e isso ainda não se percebe. Tentamos contornar regras impostas pela Direção-Geral de Saúde sem perceber que se deve controlar os contactos e contágios”, aponta.

LS

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