COP27: Francisco Ferreira pede ajuda financeira para justiça climática concreta e mais robusta

Conferência do Clima decorre no Egito entre «a esperança» do que pode ser concretizado e o que «fica no papel»

Foto: Lusa/EPA

Sharm El Sheikh, Egito, 14 nov 2022 (Ecclesia) – Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, que está no Egito a acompanhar a conferência do clima da Organização das Nações Unidas, disse aguardar a criação de um mecanismo financeiro de “justiça climática” para os mais frágeis.

“Há algo de específico aqui na COP27 que é a ideia de criar uma estrutura e um financiamento dedicado para as catástrofes que estão a ser vividas em Madagáscar e no Paquistão onde as monções obrigaram a prejuízos na ordem dos 30 mil milhões de dólares, muitas pessoas deslocadas, muitos pobres impactados por estas situações. Este é um dos pontos fortes, a justiça climática, e concretizar este auxílio, compensar a desigualdade e desequilíbrio entre os que menos contribuem para o aumento da temperatura e os que têm menos capacidade para reconstruir a sua vida depois destes acontecimentos”, explica o especialista à Agência ECCLESIA.

A ajuda financeira no valor de 100 mil milhões de dólares anuais foi uma conquista de 2020 que Francisco Ferreira assinala ser um valor aquém do necessário mas que ainda assim não foi completamente concretizada, esperando por isso a sua concretização e ampliação no valor.

O primeiro-ministro português assumiu o contributo de cinco milhões de euros para esta ajuda financeira, valor que o presidente da Zero afirma ser pouco.

“O compromisso do primeiro-ministro de aumentar num milhão por ano o compromisso que é de quatro milhões de euros anuais fica aquém. Temos de dar mais aos outros. Em 100 mil milhões de dólares por ano, como contributo dos países desenvolvidos, a nossa responsabilidade proporcional, mesmo como país pequeno dentro dos países desenvolvidos, merece uma contribuição maior”, indica.

Francisco Ferreira explica que Portugal tem de ser “coerente” com as medidas que apresenta que se “contradizem depois com outros anúncios”.

“Em Portugal temos apostas muito importantes a serem concretizadas. O mundo das energias renováveis é crucial. Não temos petróleo, carvão e gás natural – eu diria ainda bem, porque isso nos obriga a ir mais depressa em busca das fontes renováveis”, vaticina.

Mas, lamenta o responsável, a alta dependência, na ordem dos 70%, que Portugal tem ainda dos combustíveis fósseis.

Foto Agência Ecclesia/MC

“Precisamos de fazer a transição de forma sustentável, apoiar os mais vulneráveis na eficiência energética: quem vive em habitações sem condições para o verão e inverno, penalizar o uso do automóvel cujas emissões têm crescido em Portugal – olhando para os dados de 2022 – e isso passa por se investir nos transportes públicos e garantir uma mobilidade mais sustentável”, avança.

Francisco Ferreira entende que o desincentivar ao consumo de combustíveis fosseis e a aposta nas energias renováveis e eficiência energética “requer muito dinheiro” mas critica as decisões tomadas que “não saem do papel”.

“É esta realidade esquizofrénica onde se afirma que estamos em crise, que é inevitável fazermos algo, mas ficamos muito aquém do que é anunciado. Há medidas que têm de ser tomadas não no quadro de uma legislatura mas olhando para as próximas décadas e gerações”, alerta.

Sem as conferências do clima da Organização das Nações Unidas, o presidente da Zero não tem dúvidas: – “Estaríamos muito pior” – mas lamenta que os encontros “merecedores de maior atenção pelas preocupações que apresentam” apresentam, no final, “uma diferença abissal entre a teoria e a prática”: “Entre o que fica no papel e a verdadeira realização dos objetivos – ai estamos de forma dramática a falhar”.

“As reuniões acabam por ser uma mistura de esperança, algumas boas decisões concretizadas. Se não tivéssemos uma reunião global no quadro das nações unidas como temos, estaríamos pior, mas ao mesmo tempo estamos muito aquém do necessário e daquilo que os mais frágeis precisam”, reconhece.

A COP27, que decorre até 18 de novembro no Egito,reúne decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais, com o objetivo de travar o aquecimento global do planeta, entre outras metas.

LS

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