Assistente espiritual e religioso do Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus deseja mudança de mentalidades
Lisboa, 01 jul 2021 (Ecclesia) – O padre Ricardo Jacinto, assistente espiritual e religioso do Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus, disse à Agência ECCLESIA que sente que “quem entra na prisão com alguma humanidade facilmente a perde” e deseja que haja “mudança de mentalidades”.
“Algumas vezes queria acreditar que não acontece mas, quem entra na prisão com alguma humanidade facilmente a perde, a maioria das vezes sai pior do que entrou”, aponta o sacerdote.
Ao longo destes oito anos em que é assistente espiritual e religioso do Estabelecimento Prisional de Vale dos Judeus, o padre Ricardo Jacinto tem vindo a sentir “uma boa perspetiva na vontade de mudar a mentalidade de quem está no terreno”, sejam as direções, técnicos ou corpo de guardas.
O sacerdote de 43 anos recorda a primeira vez que foi àquele Estabelecimento Prisional, onde entrou “assustado”, pelos muros e arames farpados, “uma entrada impactante a quem chega”.
Depois da primeira ou segunda vez de lá ir os obstáculos deixaram de fazer sentido, quase que não dava conta de onde estava a entrar; fui continuando o trabalho e fazendo o melhor que posso, mas o maior gelo era em relação à minha perceção da realidade e senti-me bem acolhido, quer pela direção da altura, quer pela equipa, chefe de guardas quer sobretudo pelos reclusos”.
Dos reclusos que o acolheram o padre Ricardo Jacinto sabe que “grande parte já não está ali”, saíram e alguns mantiveram o contacto.
“Alguns tenho ainda relação, até porque fui sendo padrinho de crisma e até de batismo de alguns deles e vou mantendo relação”, conta.
Apesar de ter episódios menos agradáveis, por exemplo quando “passa o átrio e ouve algumas bocas que considera normal”, o sacerdote destaca um episodio agradável.
“Era um recluso que já não está lá, depois de ter proximidade com ele, disse-me nos olhos, ‘o senhor não faz ideia do que aqui faz, nunca me recebeu atrás de uma secretária, para si não sou um número, sabe o meu nome, e dá-me um abraço quando me vê’, são coisas simples mas para quem, num ambiente frio, entre eles porque é competição contínua e mas também frio de quem os governa, orienta e guarda, ter alguém de afeto faz toda a diferença, e deste tipo de comentários há vários”, explica.
As ‘Conversas na Ecclesia’ desta semana trazem a realidade da pastoral penitenciária, através do testemunho dos assistentes espirituais e religiosos, de segunda a sexta-feira, às 17h00 no site ECCLESIA e às 22h45 no programa de rádio da Antena 1.
LFS/SN