Contemplar a linha do horizonte, mergulhar e descobrir as profundezas e a vida escondida, são momentos de «beleza» e «transcendência da natureza» para o cónego António Rego
Ponta Delgada, Açores, 27 jul 2021 – O cónego António Rego, natural da ilha de São Miguel, nos Açores, diz que não se entende sem o mar, “infinito” que o fascina, cujo “dedo subtil e finíssimo de Deus” tracejou até ao infinito.
“Não nos entendemos na ilha sem o mar. A ilha é um pouco de terra rodeada de muito mar e há alturas que parece ser só mar”, disse à Agência Ecclesia.
“No mar fascina-me a linha do horizonte, uma linha finíssima de azul sobre azul que parece traçada diretamente pela mão do Criador; não foi nenhum homem que a fez e a criou, mas foi o dedo subtil e finíssimo de Deus que fez esse traçado”.
No mar, que o leva o cónego António Rego até à linha do horizonte ou mergulhando o conduz às profundezas, o sacerdote descobriu “sensação de beleza mas também de transcendência da própria natureza”.
“Sinto-me aqui muito bem e sinto que estou na minha terra e no meu mar. Muitas vezes, com a máscara, mergulhei e convivi com os peixes, com rochas, com elementos aquáticos insuspeitos e me deram. Quem tiver a alegria de mergulhar nas águas do mar e onde houver rochas bonitas como existem aqui, vai perceber que há qualquer coisa de silêncio e de eloquência que brota deste todo. Isso faz parte de mim”, reconhece.
Mais horizonte que fronteira, o mar é para o cónego António Rego um espaço “infinito”.
“O mar é mais horizonte que fronteira e é onde sinto a palavra ‘infinito’ sem a saber definir, explicar, mas inunda-me, perpassa todo o corpo, mesmo quando vejo menos, quando desço, com a maresia mais atrevida. Há qualquer coisa que transcende quem mergulha. Quando mergulhamos com a máscara, vê-se a água numa determinada forma; quando atravessamos, já é outra perspetiva; quando sobe e vê a luz, e nós aceleramos o andar por causa da respiração, há uma alegria enorme por virmos respirar naturalmente e encontrar o planeta que tínhamos abandonado por momentos e que nos dá esta alegria de vivermos com estes dons de Deus”.
As «Conversas na Ecclesia», com sabor e cenário no mar dos Açores, têm como convidado o cónego António Rego, que falou com a Agência ECCLESIA na Ilha de São Miguel, onde se encontra atualmente, para ler, ver e ouvir às 17h00 em www.ecclesia.pt e pelas 22h45 na Antena 1.
PR/LS
A Concha A minha casa é concha. Como os bichos Segreguei-a de mim com paciência: Fachada de marés, a sonho e lixos, O horto e os muros só areia e ausência. Minha casa sou eu e os meus caprichos. O orgulho carregado de inocência Se às vezes dá uma varanda, vence-a O sal que os santos esboroou nos nichos. E telhados de vidro, e escadarias Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso! Lareira aberta ao vento, as salas frias. A minha casa. . . Mas é outra a história: Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço, Sentado numa pedra de memória. Vitorino Nemésio |