Sacerdote destaca dificuldades colocadas pela pandemia a vivências comunitárias que antecedem e marcam a Quaresma
Lisboa, 16 fev 2021 (Ecclesia) – O padre José Luís Borga, pároco na Diocese de Santarém e cantor, destacou as dificuldades colocadas pela pandemia às vivências comunitárias que antecedem e marcam o início da Quaresma.
“A máscara, o brincar, esconder-se e relevar-se, a verdade, as nossas misérias, tudo isso faz parte de quem caminha juntos”, referiu o convidado de hoje nas ‘Conversas na Ecclesia’.
O sacerdote fala num ano “difícil”, à imagem do que aconteceu após a suspensão das celebrações comunitárias da Missa, em março de 2020, mas sublinha que cada um é “convocado pela própria comunidade” a entrar neste período de preparação especial para a Páscoa, iniciado na Quarta-feira de Cinzas.
O entrevistado assinala que a Igreja pode ser comparada a um “hospital”, onde as pessoas procuram a saúde, e que o Papa tem insistido na ideia de “hospital de campanha”
“É um sítio onde as pessoas cuidam umas das outras”, precisa.
O padre Borga, como é conhecido, realça que a imposição das cinzas, no início da Quaresma, evoca a “condição terrena, feita de pó”.
A Quaresma tem uma exigência comunitária, com os seus tempos e o seu percurso. Gosto muito de pensar que esta é a beleza da tradição da Igreja”.
Os católicos, acrescenta, vivem este tempo animados “por um espírito de comunhão, de vida eterna, de plenitude”.
Ao longo da Quaresma, semana a semana, os católicos passam por uma espécie de “restauro”, rumo à Páscoa, para que se tornem “outra pessoa”.
O sacerdote compara o tempo de preparação para a Páscoa a um “restauro”, em que se procura tirar o melhor de cada um, “levantando muito pó, mexendo no que estava estragado, substituindo peças”.
“Estas coisas são feitas demoradamente, com muito cuidado”, observa.
Para o entrevistado, há uma sabedoria própria na forma como o calendário litúrgico se estrutura numa sequência de dias com ciclos e símbolos próprios.
“Estes tempos fazem-nos muita falta”, sustenta.
O padre José Luís Borga fala ainda do impacto dos confinamentos nas próprias casas, onde foi preciso aprender a viver noutro tempo.
“As pessoas estavam habituadas a partilhar, em casa, apenas momentos muito rápidos”, e passaram a estar “uns com os outros”, indica.
“O confinamento trouxe um tempo de verdade, exagerado – por assim dizer – face ao que estávamos acostumados”, acrescenta.
O sacerdote refere que é necessário “reconstruir” relações, nas famílias, nas comunidades católicas, na sociedade.
“Este tempo há de purificar-nos, das relações interpessoais às pequenas e grandes comunidades”, aponta.
Este momento, acrescenta o entrevistado, levou as pessoas a considerar o essencial, o que é “permanente” na vida de cada um, deixando lições e desafios.
“A relação mudou toda, o que importa são as pessoas, não o que têm ou o que fazem”, conclui.
O padre José Luís Borga é também o convidado do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública (22h45), entre segunda e sexta-feira desta semana, que marca o início da Quaresma no calendário litúrgico da Igreja Católica.
OC
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