Consistório 2023: D. Américo Aguiar, sétimo cardeal português do século XXI, pronto para «colaboração» com Francisco

Bispo quer servir Diocese de Setúbal, «ao encontro das pessoas», após ser escolhido pelo Papa como membro do Colégio Cardinalício

Foto: Ricardo Perna

Cidade do Vaticano, 29 set 2023 (Ecclesia) – D. Américo Aguiar, novo bispo de Setúbal, vai tornar-se este sábado o sétimo cardeal português do século XXI e quarto a ser criado no atual pontificado.

“Se o Papa me chama, se me elege, significa que quer que eu dê colaboração nestas circunstâncias, que são as minhas circunstâncias, e disso não me dispensarei de fazer, com limitações, mas também com aquilo que pode ser a diversidade da presença de mais velhos e mais novos, com mais experiência”, disse o futuro cardeal, falando hoje, aos jornalistas, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

O responsável – que aos 49 anos de idade será o segundo membro mais jovem do Colégio Cardinalício – junta-se a D. José Saraiva Martins, D. Manuel Monteiro de Castro, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça no Colégio Cardinalício; D. José Policarpo, falecido em 2014, foi criado cardeal em 2011.

“O Papa pode ter pensado ou pode ter refletido naquilo que foi a preparação da Jornada e a Jornada Mundial da Juventude propriamente dita”, indicou D. Américo Aguiar.

Como cardeal eleitor, o responsável vai viver, no futuro, a “experiência única” do Conclave, para a eleição de um novo Papa.

“Eu acho que nos temos de entregar totalmente à oração para que o Espírito Santo nos inspire e que façamos, no tempo que for, daqui a muitos, muitos anos, as escolhas certas para a Igreja e para o tempo que estivermos a viver nessas circunstâncias”, sustentou.

A nomeação cardinalícia do presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 foi anunciada a 9 de julho; a 21 de setembro, o Papa nomeou o então auxiliar de Lisboa como novo bispo de Setúbal.

“Se o Papa entendeu que eu devia fazer parte do Colégio Cardinalício, farei parte naquilo que são os problemas, as dificuldades, os projetos, os caminhos, as reflexões, a oração”, referiu.

Entre os desafios identificados, destaca-se a assembleia sinodal, cuja primeira sessão se inicia a 4 de outubro, que D. Américo Aguiar vai acompanhar “no terreno”, a partir da realidade da Diocese de Setúbal, para concretizar “os sonhos de Deus”.

O responsável assumiu a intenção de se encontrar com os responsáveis da diocese sadina, após quase dois anos de sede vacante, para “ouvir, ouvir e ouvir”, ir ao terreno e “estar com as pessoas”, com um novo interesse que “mexe as entranhas”.

“Ouvir os testemunhos, acolher os sorrisos, acolher as lágrimas, acolher as raivas, acolher os sentimentos mais diversos, quer dos cristãos católicos, quer de todos os homens e mulheres de boa vontade que vou encontrar naquele território, para fazer caminho com eles”, precisou.

O novo bispo sadino assumiu que segue com maior preocupação, neste momento, as atividades económicas e industriais da Península de Setúbal, citando como exemplo a situação na Autoeuropa, além das “realidades sociais de habitação, os problemas laborais, a presença militar naquele território, a beleza e a proteção do ambiente”.

“Tenho aqui muitas frentes de que gosto, pelas que tenho particular sensibilidade. Antes de achar o que quer que seja, gostaria, nos primeiros tempos, de ir ao encontro das pessoas e tentar conhecer estas diversas realidades, porque a realidade de Setúbal é policromática”, adiantou.

Natural da Diocese do Porto, D. Américo Aguiar nasceu a 12 de dezembro de 1973 e foi ordenado sacerdote em 2001; desde 2016, é presidente das empresas do Grupo Renascença Multimédia, tendo sido nomeado bispo auxiliar de Lisboa pelo Papa Francisco, a 1 de março de 2019.

O presidente da fundação responsável pela organização da JMJ Lisboa 2023 foi ordenado bispo no Porto a 31 de março de 2019, numa cerimónia que decorreu na Igreja da Trindade, sob a presidência do então cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

D. Américo Aguiar tem como lema episcopal as últimas palavras de Jesus na cruz, ‘In manus tuas’ (Nas tuas mãos), em homenagem a D. António Francisco dos Santos, falecido bispo do Porto, que o adotou também.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

As novas armas de fé de D. Américo Aguiar, com o brasão cardinalício, foram desenhadas pelo designer heráldico italiano Giuseppe Quattrociocchi.

“Para além do galero cardinalício, constituído por 30 borlas e que é a marca de todos os cardeais da Igreja, o novo brasão ostenta as cores da bandeira portuguesa: o vermelho, cor do sangue e associada ao martírio e à especial missão que é confiada aos membros do colégio cardinalício; o verde, símbolo da esperança que aponta para Cristo Vivo e ainda uma cotica ondulada de ouro, numa evocação da JMJ Lisboa 2023”, explica uma nota enviada à Agência ECCLESIA.

A nota precisa que as cinco chagas de Cristo, dispostas em cruz,” são ainda elementos da bandeira portuguesa que constam nestas novas armas de fé”.

A Flor de Nardo, que evoca São José e a Estrela de Sete Pontas, símbolo da Virgem Maria, dois dos elementos do brasão pontifício do Papa Francisco, constam também deste brasão, como “tributo de gratidão ao Santo Padre”.

Américo Aguiar chegou na última terça-feira, a Roma, e sublinhou que está “tudo a postos” relativamente às vestes próprias do cardinalato, ao anel e ao barrete que vai receber este sábado, das mãos do Papa.

“Só me disseram que agora que eu não fizesse grandes alterações de dimensão”, gracejou.

Consistório 2023: «Ainda estou a recuperar», afirma o novo cardeal português sobre a escolha do Papa Francisco (c/vídeo)

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