Congresso internacional sobre S. Rosendo: o seu tempo e o seu legado

Uma simbólica parceria entre Portugal e a Galiza Decorreu entre 27 e 30 de Junho, na Galiza e em Portugal, o Congresso internacional sobre a vida e obra de S. Rosendo, cuja vida decorreu entre Santo Tirso, Mondoñedo e Celanova, estas duas localidades situadas na Galiza, noroeste peninsular. O Congresso foi promovido pelo Xunta de Galicia, já que foi naquela região que S. Rosendo exerceu o principal da sua acção evangelizadora e civilizadora. Teve a participação das dioceses galegas de Ferroll-Mondoñedo e Orense, do Concelho de Celanova (ao norte do Gerês), do Museu Municipal Abade de Pedrosa em Santo Tirso e das Universidades de Vigo e Santiago de Compostela. Integra-se no projecto Rudesindus (forma latina de Rosendo), e é completado com exposições em Mondoñedo, Santiago e Celanova. A figura de S. Rosendo é pouco conhecida entre nós, apesar de ter uma rua com o seu nome, na zona de Campanhã, na cidade do Porto. As numerosas intervenções de professores e peritos no Congresso mostraram a importância desta figura insigne do século X, com as múltiplas facetas da sua influência na mentalidade e cultura do seu tempo, e das relações e influências do seu pensamento e acção tanto nas artes, na população, nas estruturas da igreja, nos movimentos e fixação da população, incluindo as relações com a presença dos muçulmanos na península e com a reconquista cristã e afirmação do espírito monástico. No dizer de Frei Geraldo Coelho Dias, na sua intervenção na sessão de Santo Tirso, “o monaquismo no norte de Portugal e na Galiza tem três figuras centrais: S. Frutuoso, S. Martinho de Dume e S. Rosendo”. Desde o séc. IV e V as dioceses do Porto e Braga tiveram pouca relevância, só sendo restabelecida a sua importância a partir da diminuição da influência dos mouros. Na intervenção a que deu o título “Vida monástica na diocese do Porto e Braga durante o século X”, exaltou o papel civilizador dos mosteiros , tanto na vida da Igreja como na vida cultural e social do seu tempo. Outro orador, Francisco Carvalho Correia, da Universidade de Coimbra, salientou que no decorrer do século XIII, o da afirmação de Portugal como nação, o priorado de Celanova englobava também o de Monte Córdova, em Santo Tirso e pôs em relevo a relação jurídica entre os dois mosteiros, sendo que o primeiro era claramente preponderante em relação ao segundo, que só adquiriu independência e afirmação a partir do século XVI, nos tempos de D. Manuel I. Recorde-se que S. Rosendo era natural da diocese do Porto, da S. Miguel do Couto, Santo Tirso, e ainda hoje ali existem tradições que o associam aos benefícios casamenteiros, um pouco à semelhança do que acontece com a figura de S. Gonçalo, na região amarantina. O Congresso reuniu cerca de três dezenas de comunicações, que iam desde a história à liturgia, desde a arquitectura aos tesouros artísticos, desde as tradições da organização da Igreja às tendências da arte ao longo dos tempos. Teve a abertura pelo catedrático emérito da Universidade de Santiago de Compostela, Manuel C. Díaz, e encerramento por Mons. Julián Barrio, Bispo de Santiago, que analisou o legado de S. Rosendo na actualidade da igreja galega. Destacou-se também a colaboração da Câmara de Santo Tirso, cujo Presidente, Castro Fernandes enalteceu a importância desta interacção entre especialistas na criação, divulgação e intercâmbio cultural entre terras próximas e ligadas por figuras ou tradições. O belo espaço envolvente do convento tirsense, da sua igreja, do seu claustro medieval e do espaço actualmente ocupado pelo Museu Abade Pedrosa – que pelo interesse dos objectos arqueológicos e medievais que exibe, bem merece uma visita dos interessados em conhecer a nossa história e tradições – em dia de sol tímido mas luminoso foi um cenário para a presença deste pequeno rasgo cultural que se perde na azáfama do quotidiano, mas que ajuda numa cada vez mais necessária “busca de sentido” . (M.C.F.)

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