Congresso Eucarístico Internacional dá voz aos cinco continentes

Quatro milhões de pessoas saíram em procissão na cidade de Guadalajara O 48º Congresso Eucarístico Internacional, que este Domingo arrancou no México, dá voz à Igreja Católica presente nos cinco continentes ao juntar mais de 17 mil delegados para uma semana de reflexão, oração e comunhão. A arquidiocese de Guadalajara, que acolhe o evento, tem-se mobilizados de forma exemplar e, depois de reunir 60 mil pessoas para a Eucaristia de abertura do Congresso, cerca de quatro milhões de pessoas manifestaram-se numa romaria de cerca de cinco quilómetros, em companhia de representantes católicos de todos os continentes, na procissão de Nossa Senhora de Zapopan. Zapopan é um município ligado a Guadalajara, em cuja Basílica se celebrou ontem a festa da padroeira local, presidida pelo cardeal Juan Sandoval Íñiguez, arcebispo de Guadalajara, acompanhado por cerca de 50 cardeais de todo o mundo. O enviado do Papa, Cardeal Jozef Tomko, emocionado, pegou mesmo na sua câmara de vídeo e filmou a procissão enquanto esta se desenvolvia. A Igreja no mundo e a Eucaristia A jornada de trabalhos de ontem, no auditório da “Expo-Guadalajara”, serviu para apresentar os desafios e as dificuldades da vivência da “Fé Eucarística” nos vários continentes. Apelos do Iraque O arquieparca dos católicos sírios em Mossul, D. Basile Georges Camoussa, era o único representante da Igreja iraquiana a participar no Congresso Eucarístico Internacional. Teve, contudo, de regressar a Mossul, duramente castigada pelos combates entre forças dos EUA e grupos rebeldes da região. Antes, pôde falar com a imprensa, em particular com El Semanário, órgão da arquidiocese de Guadalajara. “Quero ser um grito neste Congresso. Quero fazer escutar a voz dos povos oprimidos e que todos, principalmente os políticos, escutem: que os povos não sejam madeira para queimar nos fornos”, disse. O prelado expressou seu desejo de que o Congresso Eucarístico Internacional “possa fazer-nos sair de nós mesmos para sentir o sofrimento dos outros e para clamar pela causa de todos aqueles que sofrem, sobretudo, o clamor do direito dos povos para viver em paz”. A respeito da Eucaristia de comunhão, tema principal do Congresso, sobretudo na sua primeira etapa reflexiva e teológica, D. Casmoussas sublinhou que «”a presença de Cristo não pode ser verdadeira na nossa vida se nós não estivermos em comunhão com os outros, sobretudo aqueles que sofrem mais e se encontram em dificuldades”. Oceania Ao apresentar o contexto de luzes e sombras sobre a situação da fé eucarística na Oceania, o arcebispo de Perth (Austrália), D. Barry J. Hickey, fez uma análise da diversidade de culturas que compõem este continente, assinalando esta realidade como “um desafio e uma esperança para a fé católica”. “Na Oceania – disse -, as pautas culturais e tradicionais das populações aborígines se viram influenciadas em ocasiões, muito profundamente, pelas sucessivas ondas de povos provenientes da Europa e de outros países. O velho coexiste com o novo, o tradicional com o moderno, as economias de subsistência à base de caça e pesca com as economias tecnológicas do primeiro mundo”. “Esta fé que compartilhamos como irmãos é a que nos reúne aqui hoje para proclamar nosso profundo amor a nosso Salvador Jesus Cristo, presente entre nós como nosso Senhor Eucarístico”, acrescentou. D. Hickey perfilou o futuro da fé católica deste continente com estas palavras: “caminhar com Cristo, proclamar sua verdade e viver sua vida em um esforço missionário, para entrar de cheio na nova Evangelização, unidos com o Papa”. América Latina O Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, considera que o Congresso Eucarístico Internacional de Guadalajara é decisivo para a América Latina por dois motivos: “o elevado número de católicos que abandonaram a Igreja e as injustiças que os habitantes sofrem no contexto da globalização”. A América Latina perdeu 10% do total de católicos nas últimas décadas, os quais mudaram para outras religiões ou seitas. Por outro lado, a globalização financeira está a atingir duramente os povos mais pobres do mundo, em especial, os da América Latina. “Cresce a exclusão social de milhões de pessoas. Países inteiros vão sendo excluídos da participação na nova ordem económica mundial porque esses países não têm capital próprio suficiente para atrair novos investimentos”, denunciou o Cardeal. Por estes motivos, D. Hummes espera que o Congresso Eucarístico Internacional seja “uma plataforma de relançamento da fé na Eucaristia”. América do Norte O cardeal Bernard Law, arcebispo emérito de Boston, descobriu, junto com os bispos do norte do continente americano, mais luzes que sombras na prática actual da fé eucarística nesse vasto território. O cardeal Law, actual arcipreste de Santa Maria Maior, em Roma, revelou que, para poder reflectir adequadamente sobre as circunstâncias da fé na Eucaristia nos EUA e no Canadá, escreveu a vários bispos desses países para que proporcionassem um relato breve do que brilha e do que não brilha na actualidade da Eucaristia. O resultado é que “a força geradora da unidade do Corpo de Cristo está em progressão na parte norte do continente americano”. Segundo D. Law, “o sinal mais notável da extensão vivente da devoção da fé na Eucaristia é a persistência da prática frequente da comunhão”. Assinalou ainda que “está a crescer de maneira importante a frequência da adoração eucarística por parte dos jovens e o número de capelas eucarísticas nas dioceses multiplicou-se nos anos recentes”. As sombras da fé na Eucaristia que o cardeal Law expôs são o declínio do número de fiéis que participam da celebração eucarística nos dias santos de domingo e festas, bem como dos fiéis que recebem a Comunhão e o “desconhecimento do Catecismo da Igreja Católica por muitos católicos”. Ásia Na Ásia, continente de uma Igreja em minoria, a fé na Eucaristia vive grandes esperanças, constatou no Congresso Eucarístico Internacional D. Carmelo Morelos, arcebispo de Zamboanga (Filipinas). “O contexto asiático oferece numerosas alternativas de promover o culto à Eucaristia apesar de ser a fé cristã uma fé de minoria e de a Ásia se encontrar dentro de uma dinâmica de economia globalizada e de sociedade secularizada”, apontou. Ao fazer a apresentação das luzes e sombras sobre a fé na Eucaristia, o arcebispo Morelos disse que a Igreja da Ásia se vê a si mesma como pobre em muitas maneiras. “Primeiro, é pobre em termos de números. Muitas vezes, a sua voz pode vir como um sussurro, tão frágil e suave que muito poucos ouvem seu chamado”, constatou. “Segundo, devemos admitir como Igreja que temos muitos fracassos, históricos e actuais. Não é necessário dizer que na maioria dos casos o cristianismo foi implantado através do uso da força e com o apoio de colonizadores”, acrescentou. A falta de formação apropriada e a falta de fidelidade aos líderes da Igreja causaram muitos danos, reconheceu. D. Morelos recordou que a Igreja asiática, na sua pobreza, é capaz de identificar-se com Jesus, pobre e humilde. E acrescentou que, contemplando o rosto de Cristo na adoração eucarística, “os cristãos asiáticos são capazes de identificar-se com o seu mestre, que, sofrendo e morrendo, conquistou os poderes da própria morte”. África D. Jean Baptiste Kpiele Some, bispo de Diébougou no Burkina Faso, considera que é possível observar no Continente “uma grande participação, livre e consciente, dos cristãos nas missas dominicais, festas e solenidades litúrgicas”. “Para a maioria dos africanos, ser cristão é ir à missa e poder comungar. Os que são privados dessa possibilidade sofrem terrivelmente”, assegurou. O prelado destacou um aumento significativo no número de pessoas que participa em peregrinações e procissões, “nas quais as ruas das cidades estão cheias de gente”. “Ressalta, de tudo o que se disse, que a fé na Eucaristia não é uma palavra vã nem uma ilusão na Igreja da África, mas antes uma realidade espiritual de vida cristã”, concluiu. Europa O Cardeal Carlos Amigo Vallejo, Arcebispo de Sevilha, destacou que hoje a Europa oferece talvez mais interrogações e inquietações do que esperanças. “Grandes crises de valores, apostasia silenciosa de Deus, nenhuma abertura à transcendência, sufocada por comportamentos consumidores, presa fácil de antigas e novas idolatrias e, ao mesmo tempo, sedenta de algo que vá além do imediato”, descreveu. “Portanto, resulta difícil viver a própria fé na Eucaristia, num contexto pluricultural que ignora e escarnece daquilo que é cristão, hoje é mais fácil declara-se agnóstico do que crente. Cabe à Igreja na Europa uma tarefa fadigosa e fascinante, orientada a recuperar uma autêntica vocação cristã, que faça redescobrir o sentido do mistério”, apontou. Para o delegado da Europa, é imprescindível apresentar Eucaristia e a Penitência “como fonte de liberdade e de renovada esperança”.

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