Conclusões do 2º Congresso da Família Missionária da Consolata

A Família Missionária da Consolata reunida em Fátima, no 2.º Congresso, subordinado ao tema “Novas Pobrezas e Missão”, em 18 e 19 de Outubro de 2003, com cerca de 300 congressistas, representando todos os grupos nacionais inseridos no Instituto Missionário da Consolata, nomeadamente os Missionários, as Missionárias, os Leigos Missionários da Consolata, os Amigos Missionários da Consolata, os Jovens Missionários da Consolata, os Leigos Peregrinos da Missão, as Mulheres Missionárias da Consolata e os amigos, colaboradores e simpatizantes, apresenta seguidamente, as conclusões resultantes dos trabalhos desenvolvidos: 1 – No último Capítulo Geral do Instituto Missionário da Consolata foi decidido considerar a Europa e a América do Norte espaços de missão “ad gentes”, resultando em Portugal por um consenso entre Missionários e Missionárias da Consolata, a intenção de abertura duma eventual missão, neste âmbito, na periferia de Lisboa. As Entidades Eclesiásticas, depois de consultadas, propuseram o Bairro do Zambujal, na Paróquia da Buraca, como o local mais adequado para a sua instalação. O estudo, observação e acções iniciaram-se no Advento de 2002. 2 – A nova missão parte de condições que não são as mais adequadas, pois as vocações consagradas são cada vez em menor número e os Missionários do Instituto em Portugal são insuficientes para as necessidades actuais, com idades avançadas na sua maioria. No entanto novos horizontes se levantam que permitem a ousadia da nova acção. São eles: a consciência que surge entre os leigos das suas responsabilidades na Igreja e de participação no carisma missionário; a comunhão entre missionários e missionárias; e a disponibilidade para olhar em redor, pisar novos terrenos iluminados pelo Espírito Santo, num só carisma partilhado por missionários, missionárias e leigos, dentro da espiritualidade de Allamano. 3 – O Bairro do Zambujal é um bairro de realojamento social, com cerca de vinte anos, com uma população muito diversificada, incluindo um número muito significativo de cabo-verdianos e ciganos entre as outras etnias. As problemáticas essenciais deste bairro, para além do emprego precário mal remunerado e com horários muito agressivos, residem no isolacionismo, tóxico-dependência, alcoolismo, elevado nível de desemprego e altos níveis de marginalidade. 4 – Existem experiências muito gratificantes no bairro, tendo como alvo crianças e jovens, empreendidas pela Misericórdia da Amadora, pelo CESIS e pelas Irmãs Dominicanas, que ilustram as realidades existentes e estão disponíveis para colaborar com todo o conhecimento que possuem. 5 – O não reconhecimento de Cristo e da Sua identidade quando se revelou na Sua vida pública como Messias e tendo como missão central “o anúncio da Boa-Nova aos pobres”, deveu-se ao povo de Israel ter sonhado com um Messias dominador e vingativo, que não condizia com a identidade real de Jesus. Por isso não só não O acolheram como O mataram. A missão de “Anunciar a Boa-Nova aos Pobres” que Cristo confia a todos os baptizados, com base na Sagrada Escritura e no seu próprio testemunho, implica uma inequívoca identificação da identidade do cristão e um conhecimento claro dos destinatários da evangelização – os pobres. 6 – A catequese do Senhor Jesus estabelece uma ligação entre Boa-Nova e libertação total, sublinhando que o acolhimento da Boa-Nova exige pessoas livres, libertas, simples, humildes, sem apego aos bens materiais, ao poder e ao ser. Deste modo os pobres são não só os desfavorecidos e carenciados, mas segundo as bem-aventuranças, são também os puros, os simples, os humildes, os que sofrem, os pequeninos. Impõe-se portanto a identificação e interiorização da identidade de cada cristão e a coerência de vida, tendo bem presente o comportamento social, caritativo e político. As mudanças a empreender individualmente devem alicerçar-se na Palavra de Deus, na oração e na contemplação, segundo o modelo da escola de Maria, mas realizadas com grande serenidade. 7 – Do mesmo modo que se aprofundou a identificação do pobre, desenvolveu-se o aprofundamento do fenómeno pobreza, novas pobrezas actuais e as suas causas. Assim pobreza que, num conceito mais tradicional, designa privações, necessidades, miséria, escassez de meios essenciais, num conceito mais amplo, significa também solidão, alimentação inadequada, apropriação dos bens de terceiros, cuidados de saúde inadequados, falta de formação, consumismo, endividamento, ganância, egoísmo, apego ao material, ao poder, etc.. As causas das pobrezas cobrem todas as áreas destacando-se as de natureza política, económica, social, cultural e educacional, referindo-se alguns aspectos com grande impacto, nomeadamente, a distribuição incorrecta dos bens, a procura incessante do lucro, o desenvolvimento descontrolado, as campanhas de marketing alienante, o abuso do poder, a destruição da família, etc. 8 – Muitas destas pobrezas, na Europa, conduzem à exclusão social, que é também ela geradora de pobrezas. Compete a cada cristão interrogar-se e encontrar as melhores formas de intervir em conformidade com a Palavra de Deus e o Magistério da Igreja, por forma a dar testemunho da sua identidade e, dessa forma, revelar o amor de Deus no amor ao próximo. 9 – A missão a que somos chamados é complexa, difícil e muitas vezes pouco clara, o que leva à interrogação sobre o que se deve fazer, interrogação que é pertinente, própria dos seres humanos livres criados por Deus. O homem crente, no tempo de insegurança e mudança em que nos encontramos, ao interrogar-se pode encontrar em Deus a resposta para as suas dúvidas. Para isso dispõe da Palavra de Deus, do magistério da Igreja, que é tão rico e abundante, nomeadamente as Cartas Apostólicas de João Paulo II, que nos convidam a contemplar o rosto de Cristo, a pôr na santidade a primeira prioridade, a orar e escutar a Palavra e a fazer uma leitura dos sinais dos tempos. Dado que Deus está vivo no meio de nós nestes tempos, nestas mudanças, é necessário vê-Lo e vivê-Lo. 10 – A acção missionária tem dado no mundo um sinal de fé e coerência de vida, mostrando o Amor de Deus na defesa dos mais desfavorecidos e alertando para as carências principais dos mais necessitados. Existem sinais de esperança quanto à irradiação da pobreza, expressos em diversas directivas europeias, compromissos políticos assumidos, consensos generalizados e empenhamento cívico de organizações não-governamentais. Cabe a cada um de nós, como cristão, consciente das suas responsabilidades de baptizado, encontrar as respostas de acordo com a vontade de Deus, mudando a sua maneira de ser e de estar, para que os caminhos novos surjam na construção do mundo de que Deus é o autor, para ser possível com Cristo transformar a história até à sua plenitude na Jerusalém Celeste. Missionários da Consolata P. José M. Fernandes

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