Comunidade madeirense no Reino Unido mantém vivas tradições religiosas

Bispo emérito do Funchal destaca qualidade do serviço pastoral A convite do «Dia Madeirense» celebrado em Londres, D. Teodoro de Faria, Bispo emérito do Funchal, esteve de visita a esta comunidade de 1 a 8 de Maio, uma das várias vezes que ali se tem deslocado em missão pastoral. O prelado salienta a organização do «Dia Madeirense», feito pela primeira vez num parque, onde até um dia de sol foi propício para a participação duma multidão de cerca de vinte mil pessoas, que até levou o presidente do Governo Regional a sentir-se num «Chão da Lagoa». Com efeito, em anos passados era feito num salão contíguo à igreja, que, embora de grandes dimensões, se tornava exíguo para uma comunidade, que segundo afirma, anda já por cerca de meio milhão de pessoas, constituindo assim a terceira comunidade de emigração madeirense no mundo, depois da África do Sul e da Venezuela. Do programa constou a celebração da Eucaristia, também no Parque, seguindo-se uma sessão alusiva à efeméride, com alguns discursos de circunstância, onde também usou da palavra o Presidente do Governo Regional da Madeira, cuja presença é requerida pela maioria da população emigrante, que é madeirense. Depois foi o momento do consagrado do típico «arraial» madeirense, com as suas barracas de comes e bebes tradicionais da nossa terra, e que foram visitadas uma a uma pelo Presidente do Governo Regional. O Bispo tem palavras de apreço para com o Delegado do Conselho Permanente das Comunidades Madeirenses, que não se limita a organizar festas, com todo o empenho, mas antes tem mantido uma acção de ajuda, «quase sacerdotal» para com a comunidade em geral, a quem trata de ajudar em toda a sua problemática. Para D. Teodoro de Faria, esta foi também «uma ocasião propícia e por isso mesmo muito importante, para falar com pequenos grupos e de conhecer a maneira como os portugueses, e neste caso os madeirenses estão a viver a sua fé, e a trabalhar no Reino Unido». «Estive lá uma semana e tive ocasião de me encontrar com estas comunidades, e encontrei muita gente conhecida, dezenas e centenas de pessoas que foram por mim crismadas. Tive oportunidade de explicar o significado das Visitas do Espírito Santo. Estas visitas, por parte dos velhinhos, são presença do amor – caridade». Quanto à visita pastoral, em si, o Bispo julga que é «muito importante». Aceita haver sempre «um aspecto político forte, mas não quer dizer que a parte religiosa, indo por um outro caminho próprio, não se desenvolva e não seja necessária». Serviço pastoral de boa qualidade A Comunidade portuguesa, e por ende, a madeirense tem ao seu serviço uma igreja que é atendida por uma equipa de padres scalabrinianos, peritos em pastoral de emigração, «que está a funcionar bem», e é presidida pelo Padre Domenico. Todos falam o idioma português. Além disso, conta a missão com o Pe. José Vaz, de 82 anos de idade, e com um padre jovem, o padre Pedro, da diocese de Beja, enviado pelo Bispo D. Vitalino, o qual tem granjeado a simpatia da comunidade: «jovem, músico, e até com grande equilíbrio», na óptica de D. Teodoro. Acrescenta o Bispo emérito do Funchal, que a «mesma catequese está a ser montada em moldes diferentes. Noutros tempos limitava-se à aprendizagem e memorização das rezas do Pai nosso Ave Maria, Credo, etc, mas agora tem uma catequese adequada aos novos métodos da pedagogia moderna. É presidida pela Irmã Angelina do Instituto de Nossa Senhora das Vitórias, e encontram-se matriculadas nesta catequese, só nesta igreja dos scalabrinianos, mais de duzentas crianças, podendo o seu número total, em todo Reino Unido, chegar a alguns milhares.» D. Teodoro regista o «interesse dos bispos católicos ingleses em ajudar e em fazer o possível para fazer com que esta comunidade viva a sua fé, porque é uma comunidade muito grande e também muito activa que se torna presente, pois enquanto as comunidades que vêm do Oriente são mais muçulmanas, as comunidades que vão de Portugal e da Madeira, são comunidades cristãs, e portanto, têm uma vida mais activa junto das comunidade cristãs». Todos querem «Visitas do Espírito Santo» Salienta ainda o Bispo emérito do Funchal, que «a acção pastoral está a chegar a outros lugares onde há grandes grupos de portugueses e madeirenses, como por exemplo na cidade Oxford que está à distância de três horas de carro. Há ali um grupo grande de madeirenses, e que ao saberem das actividades que agora se realizam em Londres, entre elas as «Visitas do Espírito Santo» às casas dos madeirenses, pediram para irem lá também fazer a «Visita do Espírito Santo» e se possível até a celebração da Missa». E comenta o bispo: «É interessante verificar como as pessoas se comunicam entre si, sabem onde se encontram, sentem esta necessidade de viveram a sua fé, mas também de terem sinais que lhes falem da sua terra e que são muito significativos». Para D. Teodoro «uma das coisas agora mais impressionantes em Londres – não é o primeiro ano, mas está a aumentar – é a «Visita do Espírito Santo» às casas dos particulares. Vão os irmãos com capa vermelha, vão as saloias e dois músicos, vai a coroa do Espírito Santo e também vai o padre. Começam as visitas pelas dez da manhã e vão até às dez da noite. Entrando nos arranha-céus, nas casas mais pequenas». Comenta D. Teodoro que «os ingleses, já habituados a tanta coisa diferente, como a burca, nem se admiram, acham tudo muito natural. Londres é uma cidade onde cada um faz o que quer, veste como quer, e as pessoas não se preocupam. Só que há uma grande ordem. Todos têm medo da polícia e ninguém estaciona num lugar proibido. Como o medo é que guarda da vinha, aqui o medo guarda da multa. É uma cidade cosmopolita com as suas características próprias». Confraria do SS. Sacramento D. Teodoro diz apoiar a fundação da Confraria do SS. Sacramento em Londres, como é desejo da comunidade: «Julgo que devem fazê-la, não tanto por causa da Confraria em si, mas para atingir a sua finalidade de promover a devoção à Sagrada Eucaristia, à Missa, à Adoração ao Santíssimo Sacramento e também á participação nas Festas com o sinal externo da capa vermelha que dá sempre um certo sinal religioso que é necessário nestas cidades que se vão tornando cada vez mais laicas.». Sensibilidades, não divisões Questionado sobre as possibilidades da existência de algumas divisões no seio da comunidade, como por vezes se verificam, D. Teodoro foi peremptório: «não diria divisão, mas sensibilidades. A sensibilidade do Espírito Santo, as Festas como nós fazemos, a alimentação por ocasião dos arraiais, é certamente diferente do continental, Não vejo uma divisão nesta aspecto. Agora eles distinguem-se facilmente de onde são, mas a realidade é que existem muitos casamentos entre continentais e madeirenses». Comunidade fala português Afirma D. Teodoro que falou em idioma português com as crianças, em alguns Infantários que visitou, sinal de que os pais falam o idioma pátrio em casa. Salienta ainda D. Teodoro o facto da família vir unida à igreja. Pais e filhos, sejam crianças adolescentes ou jovens. «Isto preserva melhor a fé dos jovens. Não há o desfasamento que encontramos cá, entre os jovens e a mesma família», chamando a atenção para o drama que constitui, também neste aspecto, «o grave problema das famílias desfeitas». A finalizar, D. Teodoro observa que nesta comunidade, já se nota muita gente formada em universidades portuguesas, que emigram para a Inglaterra em busca de trabalho.

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