Comunidade cigana alvo de descriminação

Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos aposta na informação e formação da sociedade “A comunidade cigana é continuamente descriminada” regista Francisco Monteiro. Esta não é uma realidade nova e “tem vindo a agravar-se nos últimos tempos”, regista director executivo da Obra Nacional Pastoral dos Ciganos (ONPC). A Comissão Europeia contra o Racismo e Intolerância divulgou um relatório referindo que a comunidade cigana enfrenta dificuldades, em nada surpreendentes para a ONPC que diariamente é procurada para ajudar e encaminhar a população”. Através dos Secretariados diocesanos, “alguns mais activos que outros”, prestam “por eles e com eles um auxílio localizado”, refere Francisco Monteiro. Os principais problemas prendem-se com a falta de educação e escolarização dos ciganos. Mas a rejeição quando adquirem algumas capacidades de inserção no mercado de trabalho é também uma realidade. O director executivo relembra o exemplo de uma mulher de etnia cigana “com 40 anos que não consegue encontrar trabalho por causa da sua raça”. A descriminação é sentida também na aquisição de habitação, quer na compra ou no aluguer. O dia a dia nas escolas também é discriminatório, “não em todos os estabelecimentos de ensino, onde existe uma boa integração”, mas há escolas onde a descriminação acontece, extensível também a estabelecimentos comerciais. Há formas de denunciar estas situações, nomeadamente através do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias étnicas, mas “a maioria estes casos passam despercebidos”, dá conta o director executivo, que todos os dias recebe e tenta encaminhar pessoas que convivem com estas descriminações. Francisco Monteiro sublinha também o papel negativo que algumas autarquias têm no tratamento com a população cigana. A Comissão Europeia no relatório adianta, no entanto, que Portugal não é um país racista, afirmação contrariada pelo director executivo. “No nosso país não acontecem casos de violência, como nos países de leste”, sublinha. Por isso se “teoricamente não somos racistas, diariamente a Obra Nacional Pastoral dos Ciganos encontra casos de descriminação”, regista. O trabalho desenvolvido pela ONPC é “contínuo e em várias frentes”, começando pela auto promoção da própria população cigana. Foi recentemente estabelecida a Federação Calhim Portuguesa, que congrega as 18 associações de ciganos existentes em Portugal, “o próximo passo é a publicação dos estatutos no Diário da República”, sendo este um passo importante na cooperação em Portugal e na Europa para apoiar a população cigana, “dando-lhes uma voz que não tinham”. Ao nível da educação “tentamos restabelecer uma ligação com os mediadores sócio culturais, com vista à escolarização das crianças ciganas, em especial das mulheres”. A actuação permanente e de “pressão junto das câmaras municipais, policia e outras entidades de forma a contrariar actos de racismo”. A influência da opinião pública é também fulcral pois “trata-se de acabar com os estereótipos de uma cultura que na realidade as pessoas não conhecem”, mas que acabam por projectar e desencadeando reacções discriminatórias. Se a opinião pública estiver mais e melhor informada “será mais receptiva e acolhedora da diferença cultural, não só dos ciganos mas de todos”, conclui.

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