Comunicado dos Bispos da Guiné-Bissau sobre o acto eleitoral

«Pedimos encarecidamente a todas as forças políticas que aceitem os resultados da votação» Nós, Bispos da Igreja Católica na Guiné-Bissau, desejamos dirigir a todos os membros das nossas comunidades, bem como a todos os homens e mulheres de boa-vontade uma palavra após o acto eleitoral que o País acaba de viver. Antes de mais queremos sublinhar o dever-direito que cada cidadão tem de participar na construção do seu País. Ora as eleições foram um momento propício para explicitar esta participação e, de facto, o povo manifestou que desejava e estava pronto para intervir activamente neste momento importante para a sua vida e a vida do País. Os eleitores revelaram uma grande maturidade cívica e manifestaram, com o seu voto, confiança na classe política, demonstrando ter entendido e entrado no espírito da democracia. Sabemos que a democracia é um processo de aprendizagem e, como tal, é passível de aperfeiçoamento. Nem tudo terá sido perfeito, tendo havido algumas falhas graves, sobretudo de ordem organizativa. No futuro será necessário corrigir estes erros, usando melhores métodos para que se possam atingir resultados mais satisfatórios. No entanto, pensamos que os incidentes ocorridos não tocam no essencial a qualidade do processo eleitoral, visto que a maioria dos eleitores conseguiu exprimir livremente a sua preferência de voto. O guineense aprendeu que tudo quanto tem valor tem um preço; não regateou sacrifícios nem antes nem durante o acto eleitoral. Revelou grande paciência aguardando este momento, continuamente adiado, e, ao ficar horas e horas, à espera da sua vez de votar, manifestou que tinha entendido a importância das eleições para dar uma oportunidade ao País de sair do impasse em que está mergulhado. Por todas estas razões, e porque o País precisa de condições para funcionar, queremos pedir à classe política a mesma maturidade democrática, o mesmo amor à Pátria e o mesmo espírito de sacrifício que o povo manifestou ao acorrer às urnas e ao manifestar as suas preferências políticas. Pedimos pois encarecidamente a todas as forças políticas que aceitem os resultados da votação. O que é importante, neste momento, é olhar para o futuro e empenharmo-nos na reconstrução do País, fazendo funcionar as instituições democráticas em vista da construção de uma sociedade mais organizada, harmoniosa, solidária e em maior sintonia com os parceiros de desenvolvimento e a Comunidade Internacional. Faz parte da lógica de eleições democráticas que haja vencedores e vencidos. Aos vencedores a tarefa exigente de governar, aos vencidos a tarefa não menos importante de fazer a oposição. A ambos a missão de construir um País viável, onde a Justiça, o Desenvolvimento e a Paz não sejam apenas palavras, mas se transformem num estilo de vida e de governação. Acreditamos que o povo guineense tem reservas morais que lhe permitem enfrentar o presente e o futuro com dignidade e com êxito, mas, para isso, é necessário que o bem comum prevaleça, fazendo cada actor político deixar de parte interesses pessoais ou de grupo e assumir as responsabilidades históricas da hora presente. Queríamos manifestar o nosso agradecimento às organizações nacionais e internacionais, aos órgãos da comunicação social e a todos quantos trabalharam para criar um clima de serenidade e um sentimento democrático, motivando a população para uma participação que podemos considerar extraordinária e extraordinariamente lúcida e pacífica. Pedimos a Deus, Senhor da História, que abençoe o nosso País e que dê a todos – povo e classe política – a maturidade e a generosidade necessárias para construírem um futuro mais promissor e mais conforme aos desígnios de amor e de felicidade que Ele tem para cada um dos seus filhos. Bissau, 31 de Março de 2004 D. José Câmnate na Bissign (Bispo de Bissau) D. Pedro Carlos Zilli (Bispo de Bafatá)

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