Parcerias com comunidade científica e informação que contextualize são caminhos de combate às «fake news», afirmou aos participantes do Consórcio internacional dos Media católico «Fact-checking Católico»
Cidade do Vaticano, 28 jan 2021 (Ecclesia) – O Papa Francisco propôs aos profissionais da comunicação a tarefa de trabalharem “juntos pela verdade”, procurando parcerias com a comunidade científica para combater as “fake news” e pediu que não se isolem as pessoas que têm dúvidas.
“Se for necessário combater as ‘fake news’, as pessoas devem sempre ser respeitadas porque muitas vezes aderem inconscientemente a elas”, pediu hoje, durante um encontro com os membros do Consórcio internacional dos Media católico «Fact-checking Católico».
Francisco quis refletir sobre as notícias em tempo de pandemia, e recordou palavras de São Paulo VI que explicava a comunicação não apenas como um “destacar o que seria imediatamente percetível”, mas indicava a necessidade de “procurar elementos de enquadramento e explicação sobre as causas e circunstâncias de cada facto” a relatar.
Para o Papa, estas regras de comunicação devem estar presentes na informação atual que hoje circula e lembrou ao Consórcio o objetivo do seu trabalho – “Estar juntos pela verdade”.
“Vocês propõem chamar a atenção às ‘fake news’ e informações tendenciosas ou enganosas sobre as vacinas Covid-19, e fazem-no colocando em rede com diferentes Medias católicos e envolvendo vários especialistas. Estar juntos, o trabalho em rede, é fundamental no campo da informação e, num tempo de divisões, já é um testemunho”, reconheceu.
Recordando a sua reflexão publicada na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, Francisco alertou para a “infodemia”, a “distorção da realidade baseada no medo, que na sociedade global faz ecos e comentários sobre notícias falsificadas ou mesmo inventadas”.
A aliança entre a “pesquisa científica sobre as doenças” e a verdade da comunicação é para o Papa Francisco o caminho para “progredir e combater melhor”.
O Papa lembrou ainda a necessária “solidariedade” com os “países que têm menos”, mas pediu uma atitude desinteressada e “não esmolas de piedade”.
“Isto deve ser feito com planos a longo prazo, não apenas motivados pela pressa das nações ricas em serem mais seguras. Os remédios devem ser distribuídos com dignidade, e não como esmolas de piedade. Para fazer um bem real, é preciso promover a ciência e sua aplicação integral. Portanto, estar corretamente informado, ser ajudado a entender com base em dados científicos e não em ‘fake news’, é um direito humano”, lembrou.
O propósito da comunicação, indicou, são as pessoas e no combate às ‘fake news’, pediu, estas devem sempre ser respeitadas, uma vez que a sua adesão pode ser “inconsciente”.
O comunicador “constrói pontes”, sendo também um “construtor de paz” quando procura a verdade.
“A realidade é sempre mais complexa do que pensamos, e devemos respeitar as dúvidas, ansiedades e perguntas das pessoas, tentando acompanhá-las sem jamais tratá-las com superioridade”.
Francisco pediu que se trabalhe por uma “informação correta e verdadeira sobre a Covid-19 e as vacinas, sem criar muros, sem criar isolamentos”.
O Papa deteve-se ainda sobre a palavra «verdade» para lembrar que a procura da verdade não pode estar refém de uma “perspetiva comercial pi de interesses económicos”.
“Ficar juntos pela verdade significa também procurar um antídoto para algoritmos destinados a maximizar a rentabilidade comercial, significa promover uma sociedade informada, justa, saudável e sustentável. Sem uma correção ética, estes instrumentos geram ambientes de extremismo e levam as pessoas a uma radicalização perigosa”, alertou.
Francisco lembrou que o serviço pela verdade quer “favorecer a comunhão” e promover “o bem de todos”, sem “isolar, dividir ou opor”.
LS
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