Comunicação na era digital

António Estanqueiro, Professor e Formador

Agência Ecclesia/MC

A comunicação digital está a transformar o modo como pensamos, aprendemos, trabalhamos, ocupamos os tempos livres e interagimos uns com os outros. Tem trazido, sem dúvida, benefícios extraordinários para a vida pessoal, social e profissional. Mas também desafios.

Quem reflete criticamente sobre o impacto da internet nas relações humanas, sabe que é necessário dar mais tempo à comunicação presencial e cuidar da qualidade das mensagens partilhadas nas redes sociais.

 

Comunicação presencial

Os telemóveis e os computadores são instrumentos de comunicação que nos permitem interagir, de forma fácil e rápida, com familiares e amigos, independentemente da distância. Na medida em que nos aproximam de quem está longe, o seu impacto é positivo. Mas, quando impedem a comunicação presencial e nos afastam das pessoas mais próximas, têm um impacto negativo.

Pensemos nos telemóveis, omnipresentes. Na vida familiar, particularmente na comunicação entre pais e filhos, quantas conversas importantes são interrompidas pelo uso inoportuno dos telemóveis (ou de outros ecrãs), mesmo durante as refeições? Na vida social, quantas pessoas consultam os telemóveis ou atendem chamadas não urgentes, deixando de escutar quem está à sua frente? E quantas vezes observamos jovens em grupo que se divertem com os seus telemóveis, sem conversarem uns com os outros?

Na era digital, as conversas tornaram-se cada vez mais breves e superficiais. Faz-nos falta uma dieta de ecrãs para darmos tempo e atenção à comunicação face a face com a família e com os amigos. Conversar calmamente, de coração aberto, é uma experiência saudável que reforça os laços afetivos entre quem fala e quem escuta.

As interações virtuais servem para iniciar ou manter contactos, mas está provado que não substituem o calor humano das interações presenciais. No ambiente virtual, as relações são frágeis. Muitas vezes começam à mesma velocidade com que acabam. Só a comunicação presencial, olhos nos olhos, oferece a magia da troca de sorrisos e abraços, desenvolve a empatia e garante a construção de relações fortes e duradouras.

O uso excessivo ou descontrolado das tecnologias digitais traz sempre prejuízos para a vida pessoal e social. Pode criar isolamento, causar dependência e roubar tempo ao trabalho, ao estudo, ao exercício físico, ao convívio ou ao sono. Os riscos aumentam quando alguém viaja livremente na internet e contacta desconhecidos mal intencionados com perfis falsos, lobos disfarçados de cordeiros. Por tudo isto, crianças e adolescentes, incapazes de fazer escolhas seguras, precisam da vigilância atenta e protetora dos pais.

 

Partilha de mensagens

A partilha de mensagens nas redes sociais deve ser bem ponderada. Quem tem respeito por si mesmo e pelos outros, pensa duas vezes antes de partilhar textos, fotos ou vídeos. É imprudente expor a sua vida privada e pode ser criminoso expor a vida privada de outros. Serve de pouco arrepender-se depois.

As redes sociais têm prós e contras. São meios poderosos para aproximar pessoas, divulgar boas causas, denunciar injustiças e defender princípios e valores.  Infelizmente, também funcionam como espaços públicos para exibir vaidades, espalhar notícias falsas ou mentiras e praticar agressões.

Não podemos ignorar os abusos cometidos nas redes sociais. Em nome do direito à liberdade de expressão, há pessoas ignorantes e atrevidas que transmitem banalidades ou falsidades, alimentando boatos e polémicas. Há pessoas desonestas que espalham mentiras com a intenção de enganar alguém e obter benefícios. Pior ainda. Há pessoas agressivas, sem o mínimo de empatia, que atacam os outros com mensagens de ódio e violência. É o que acontece, por exemplo, com o fenómeno preocupante do bullying digital entre adolescentes. Não faltam vítimas a exigir justiça!

Nenhuma lei consegue evitar todos os riscos do acesso livre à internet. Mas é possível melhorar as relações interpessoais se lidarmos com as tecnologias de comunicação de forma crítica e responsável.

Neste sentido, os pais informados fazem bem em negociar com os filhos regras e limites para o uso da internet, sendo modelos de equilíbrio na ligação aos ecrãs. Os professores, por sua vez, devem orientar os alunos no desenvolvimento de competências digitais, investindo também na promoção de competências sociais e valores. O futuro depende da qualidade da educação.

 

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