Como o pão de cada dia

Começou pela caridade, passa pela esperança e tudo leva a crer que nos conduzirá proximamente à fé. Bento XVI, na sua segunda Carta ao Povo Cristão. Que, como “encíclica” se destina a circular pelas comunidades para ser lida como uma epístola de Paulo ou de Pedro aos cristãos dispersos por diversas igrejas. Tal como Paulo fazia, conhecedor da realidade e da missão da Igreja, Bento XVI fala a este tempo a partir do olhar sobre os acontecimentos convertidos em sinais que precisam ser lidos com a iluminação da fé. E parece-nos de facto muitas vezes que o homem de hoje anda um pouco perturbado com os sinais preponderantes ou que mais se impõem nas narrativas de palavras e imagens que constituem sempre referência aos caminhos por onde andamos. E pode dizer-se que estes tempos não são, para muitos, timbra-dos de esperança. Há uma série de esforços e promessas em muitos terrenos que parecem ter fracassado. A fome ainda habita o nosso mundo e o nosso país nas suas múltiplas formas. Os acordos e tratados, convenções e cimeiras parecem sugerir-nos um novo tempo de paz parecido com o sonhado por Isaías. Mas os tropeços são constantes e a paz perde-se outra vez no horizonte, como ponto minúsculo e inalcançável. E por aí adiante. É neste contexto que a esperança ganha uma especial dimensão e oportunidade. Tal como a fé, sua parente íntima que não se define pelo somatório de razões lógicas ou filosóficas, a esperança não brota como instinto de saída de emergência para as crises, ou dum optimismo barato que só vê meia face do globo, como se a noite não existisse. É nesse complexo de luz e sombra que a esperança brota. Com algo desconhecido: “esse desconhecido – diz o Papa – é a verdadeira “esperança” que nos impele e o facto de nos ser desconhecida é, ao mesmo tempo, a causa de todas as ansiedades como também de todos os impulsos positivos ou destruidores, para o mundo autêntico e o ser humano verdadeiro.” Tudo isto tem a ver com Deus. A esperança é sobrenatural. Mas o problema é que muitos crentes, mesmo cristãos, em matéria de esperança, ainda que com muita fé, não vêem mais longe que os pagãos porque se refugiam nos seus próprios becos. É a novidade dum horizonte desenhado pela redenção de Jesus que importa proclamar ao mundo de hoje para que se não aprisione nos próprios instrumentos de redenção. Mesmo com alguns acentos técnicos e teológicos mais áridos, esta carta de Bento XVI clarifica o momento que vivemos e o grande depois que é a eternidade. Com a esperança colocada de permeio. E algumas propostas concretas de celebrar a vida e a morte e o além, na esperan-ça… onde somos salvos. Por isso é tão importante pedir a Deus a esperança. Como pedir o pão de cada dia. António Rego

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