Bispo da Guarda defende criação de empregos e cortes nalguns ordenados, mesmo que um deles seja o seu
O Bispo da Guarda defendeu este Domingo que o combate à exclusão social é “uma das prioridades da acção da Igreja”, sublinhando que este esforço “não depende só dos governos e das leis que eles possam fazer ou até dos subsídios materiais que possam ser atribuídos”.
D. Manuel Felício considera fundamental apostar na “proximidade a cada uma das pessoas, suas famílias e relações de vizinhança” para o combate à pobreza e a promoção do trabalho.
A este respeito, diz que o Estado deve oferecer “condições para a criação de empregos para que as pessoas possam exercer o direito ao trabalho”. “O desemprego é o grande flagelo que atinge actualmente as sociedades mesmo as desenvolvidas com agravamento na crise financeira que vivemos desde há um ano”, alerta.
Numa região em que os números são ainda mais altos do que a média nacional, o Bispo da Guarda cita Bento XVI para falar na “responsabilidade social”, frisando que a gestão de uma empresa “não pode ter em conta unicamente os interesses dos proprietários da mesma, mas deve preocupar-se também com as outras diversas categorias de sujeitos que contribuem para a vida da empresa, incluindo a comunidade de referência, onde ela se situa”.
“Apesar de certas empresas fecharem e outras diminuírem o número de trabalhadores, o que está a acontecer todos os dias entre nós, os resultados finais da produção não diminuem. No caso português, o PIB desacelerou no seu crescimento, mas não diminuiu apesar da crise”, observa D. Manuel Felício, que pergunta: “Se os lucros são os mesmos ou ainda maiores e os trabalhadores são menos, a quem pertencem as mais-valias?”
Neste contexto, o prelado declara que “os lucros das empresas – e por princípio, a empresa deve dar lucros – devem incluir nos seus destinos também a satisfação das grandes necessidades da sociedade em que se enquadram”.
“Há fundos e mais-valias que têm de ser transferidos para dinamizar a criação de empregos onde eles não existem e para irem em auxílio das populações famintas que infelizmente são ainda um grande flagelo da humanidade”, indica.
Para combater o desemprego, acrescenta, é necessário “a coragem de acreditar na capacidade empreendedora própria de cada pessoa”. Por isso, escreve, “temos de pedir às nossas autoridades o cumprimento do dever de justiça que é criar as condições para este empreendedorismo, com a transferência de mais-valias financeiras para regiões carenciadas como a nossa”.
D. Manuel Felício diz mesmo que “se não havia dinheiro nos cofres públicos para satisfazer a parte do Estado, pedia-se a coragem de cortar na despesa do Estado o necessário e uma das soluções poderia passar por diminuir alguns ordenados, durante algum tempo para isso ser possível”.
“Eu, pela parte que me diz respeito, aceitaria entrar neste jogo. São gestos corajosos desta natureza que nos têm faltado, até para dar a volta por cima à crise financeira, que continua a fazer sofrer muitas famílias”, atira.