Colômbia: Papa pede respeito pelo «rosto mestiço» da Igreja Católica na América Latina

Discurso aos episcopados católicos da região sublinha importância de promover a democracia

Bogotá, 07 set 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco pediu hoje em Bogotá respeito pelo “rosto mestiço” da Igreja Católica na América Latina, questionando tentativas de colonização ideológica e de exploração da região.

“A Igreja não está na América Latina como se tivesse as malas na mão, pronta a partir depois de a ter saqueado, como muitos fizeram ao longo do tempo. Aqueles que assim se comportam olham com um sentido de superioridade e desprezo para o seu rosto mestiço”, assinalou, na Nunciatura Apostólica na Colômbia, perante os membros do Comité Diretivo do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).

Na embaixada da Santa Sé estavam 5 membros da presidência do CELAM, 35 bispos das suas comissões e 22 secretários-gerais das conferências episcopais.

Francisco apontou o dedo aos que pretendem “colonizar” a alma da América Latina “com as mesmas fórmulas, falhadas e recicladas, sobre a visão do homem e da vida”.

“Homens e utopias fortes prometeram soluções mágicas, respostas instantâneas, efeitos imediatos”, alertou.

A intervenção desafiou cada católico a estar disposto a contribuir, como crente, “nos processos dum desenvolvimento humano autêntico, na consolidação da democracia política e social” nos países latino-americanos.

O Papa desejou uma “superação estrutural da pobreza endémica” na região, com modelos de desenvolvimento económico sustentável que respeitem a natureza, na defesa da paz.

Francisco falou de valores fundamentais como “o sentido de Deus e da sua transcendência, a sacralidade da vida, o respeito pela criação, os laços de solidariedade, a alegria de viver, a capacidade de ser felizes sem condições”.

“Não podemos perder o contacto com este substrato moral, com este humus vital que habita no coração do nosso povo; nele se percebe a mistura quase indistinta mas ao mesmo tempo eloquente do seu rosto mestiço: não apenas indígena, nem hispânico, nem lusitano nem afro-americano, mas mestiço, latino-americano”, precisou.

Os membros do CELAM foram convidados a colocar a missão de Jesus no coração da própria Igreja.

“Não é lícito deixarmo-nos paralisar pelo ar condicionado dos escritórios, pelas estatísticas e pelas estratégias abstratas. É necessário dirigir-se à pessoa na sua situação concreta; não podemos afastar o olhar dela”, advertiu.

O quarto discurso em solo colombiano evocou a próxima Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer no Panamá, em 2019, e elogiou o papel das mulheres na Igreja, com a sua “força eclesial e social.

“Por favor, não as reduzamos a servas do nosso clericalismo recalcitrante; mas sejam, ao invés, protagonistas na Igreja latino-americana”, pediu.

No final do encontro, o Papa deslocou-se para o Parque Simón Bolívar, em Bogotá, onde, segundo o ministro da Defesa da Colômbia, vai decorrer a “maior celebração” ao ar livre desta viagem, que se prolonga até domingo, com a presença de centenas de milhares de pessoas.

OC

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