Colômbia: «O ódio não tem a última palavra» – Papa

Francisco presidiu a «grande vigília» de oração pela reconciliação nacional, com testemunhos de vítimas e ex-combatentes

Villavicêncio, 08 set 2018 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje à “grande vigília” de oração pela reconciliação nacional da Colômbia, na localidade oriental de Villavicêncio, na presença de 6 mil vítimas do conflito armado.

"O ódio não tem a última palavra", disse Francisco, depois de ouvir, com a multidão, os testemunhos de pessoas atingidas pela guerra civil das últimas década e de ex-combatentes.

O Papa pediu que a “justiça, verdade e misericórdia” se sobreponham à “vingança” para respeitar a “história de dor da Colômbia”.

“É hora para desativar os ódios, renunciar às vinganças, e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade, na criação de um verdadeiro encontro fraterno”, defendeu.

Francisco disse que quis estar “perto” e ver estas pessoas “olhos nos olhos”, em memória de “milhares de vítimas inocentes” e da dor dos seus familiares, recordando “feridas que custam a cicatrizar”.

“Rezemos juntos, perdoemo-nos. Eu também tenho de pedir perdão”, apelou.

A celebração, que reuniu milhares de pessoas no Parque Las Malocas, cerca de 120 km a sudeste de Bogotá, capital colombiana, evocou o sofrimento das famílias e comunidades afetadas pelo conflito, “marcado pelo sangue e a dor de mais de 8 milhões de vítimas”.

Em causa estão “984 507 homicídios, 166 407 desaparecidos, 16 340 assassinatos seletivos, 1982 massacres, 35 092 sequestrados, 19 684 vítimas da violência sexual, 6421 casos de recrutamento forçado e 12 000 amputados”.

A cerimónia de oração, com vários gestos pela paz, incluiu testemunhos de várias vítimas: Juan Carlos Murcia Perdomo, antigo combatente das FARC, que perdeu a mão esquerda; Deisy Sanchez Rey, recrutada pelas ‘Autodefesas Unidas da Colômbia’; Luz Dary Landazury, vítima do conflito, atingida por uma mina; e Pastora Mira García, que viu serem assassinados o seu pai, o seu primeiro marido, a sua filha, cujo cadáver encontrou apenas sete anos após a morte, e o seu filho mais novo.

Perante as palmas da multidão, visivelmente emocionada, Pastora Mira pediu o fim do “ciclo de violência” na Colômbia, e depositou junto da imagem do Cristo negro de Bojayá, sem pernas nem braços, uma camisa do seu filho que lhe tinha sido oferecida pela irmã.

O Cristo mutilado veio de uma igreja onde foram massacradas dezenas de pessoas.

Francisco mostrou-se comovido com histórias de "amor e perdão" e rezou pela restauração da “paz e da concórdia” no país.

“A violência gera violência, o ódio gera mais ódio e a morte mais morte. Temos de romper este ciclo e isso apenas é possível com o perdão e a reconciliação concreta”, sustentou.

Evocando a experiência dos ex-combatentes, o Papa sublinhou que “não se pode viver do rancor, só o amor liberta e constrói”.

“Todos somos vítimas, inocentes ou culpados, mas todos vítimas, de um lado e do outro, todos unidos na perda de humanidade que implicam a violência e a morte”, precisou.

A intervenção concluiu-se com uma oração diante do Cristo negro de Bojayá.

A 20ª viagem internacional do pontificado começou esta quarta-feira; o Papa regressa a Roma na tarde de domingo, estando a chegada à capital italiana prevista para as 12h40 (menos uma em Lisboa) de segunda-feira.

OC

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