D. Virgílio Antunes presidiu a «celebração verdadeiramente comovente» de oração e gratidão
Coimbra, 02 jun 2020 (Ecclesia) – O bispo de Coimbra presidiu este domingo à Eucaristia e oração do Terço com profissionais da ‘linha da frente’ no combate à Covid-19, famílias, com partilha de testemunhos sobre os efeitos do coronavírus, na igreja de Santa Cruz.
“Esta celebração foi verdadeiramente comovente porque não tivemos aqui um conjunto de palavras mas tivemos um testemunho de vidas. De vidas vividas em primeira pessoa em que procuraram acompanhar outras vidas em situação absolutamente diferente de tudo o que tínhamos vivido até agora”, disse D. Virgílio Antunes, na oração que encerrou o mês mariano de maio.
Os mistérios do Terço foram recitados por pessoas afetadas pela pandemia de Covid-19, as quais partilharam o seu testemunho – um profissional de saúde recuperado da infeção, um cuidador de pessoas vulneráveis; um capelão hospitalar; uma família enlutada; uma família que viveu a angústia de um parto prematuro – e estiveram presentes representantes dos profissionais de saúde, cuidadores, bombeiros, forças de segurança, militares e voluntários
“Na vossa pessoa, todos aqueles que pudemos ouvir e todos vós que representais muitos outros que aqui não estão podemos tocar, palpar, sentir, aquilo que têm sido os sentimentos existentes nos corações: Os melhores, de alegria, felicidade, mas também os mais duros de encarar, sobretudo a dor, o sofrimento, o isolamento, a solidão, o medo, e tantos outros sentimentos que povoam a vossa vida, a nossa vida ao longo destes temos”, desenvolveu o bispo de Coimbra.
Frederico Simões, enfermeiro dos Hospitais da Universidade de Coimbra, testemunhou que ficou infetado “no contexto de urgência”, com uma doente crítica com suspeita de infeção Covid-19 que “necessitou de ser entubada” e passados três a quatro dias começou a sentir-se “quente, febril, dores musculares e cansaço”.
Em casa iniciou um isolamento voluntário, “sem apetite, quase sempre a dormir com episódios de febre quase interruptos, e dores musculares tão intensas que pareciam que arrancavam os músculos com garras”, e contou com o apoio das filhas e da esposa que “estiveram sempre preocupadas” com as suas “necessidades e evolução do estado de saúde”, que o levou, depois, a ficar internado sete dias.
“A partir do quinto dia de internamento a melhoria foi exponencial; O regresso a casa, onde apesar de manter o isolamento de contacto, ser permitido ver, estar e sentir perto algumas pessoas que mais amo foi maravilhoso”, recordou o enfermeiro Frederico Simões.
Nuno Malta foi o elemento da família enlutada que partilhou a morte do sogro neste período de pandemia e recordou que se “já seria uma Páscoa diferente, face às limitações impostas”, não estavam “de todo preparados para o que aconteceu” quando na madrugada de domingo de Páscoa a sua filha “deparou-se com o avô no chão, inanimado”.
“Quando chegou o auxílio já se encontrava consciente e a hemorragia craniana praticamente estancada; Infelizmente e lamentavelmente faleceu na segunda-feira ao final da tarde. Neste tempo sem precedentes a morte e luto obrigam a uma maior capacidade de cada um de nós para superar a mágoa existente”, explicou.
Segundo Nuno Malta “é algo aterrador” a “impossibilidade” em realizar um velório, uma Missa de corpo presente, “dignificando a vida terrena” e permitindo que “todos lhe pudessem prestar uma última homenagem”.
Sílvia Monteiro, médica Cardiologista, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, num elogio aos profissionais da “linha da frente” no combate à pandemia de Covid-19 afirmou que “o milagre aconteceu em Portugal” graças às pessoas que estavam na celebração e aos grupos que representaram porque “souberam fazer a diferença todos os dias nos hospitais, nos centros de saúde, nas ambulâncias, nos lares, nas instituições ou nas ruas”.
“Assumimos esta pandemia como a missão das nossas vidas, movidos apenas pela força do Amor que ultrapassa o medo, a incerteza, o cansaço, e a desolação”, desenvolveu a médica que também esteve envolvida no combate à pandemia e afirmou que “a humanidade se transcende em tempos de crise”.
D. Virgílio Antunes assinalou que “há um futuro à frente” que todos querem que “seja melhor do que o presente e do que o passado”.
“Temos cá dentro possibilidade, capacidade para fazer o futuro melhor, temos de ter inteligência para aprender com as experiências do passado, temos que ter coração aberto para as inspirações que vêm do alto, temos que ter braços abertos para acolher os outros”, acrescentou na celebração realizada na igreja de Santa Cruz, no contexto do Jubileu dos Mártires de Marrocos e de Santo António.
CB/OC