Organismo alerta para «pobreza com ímpeto em largas zonas do país» que ameaça «superar os 18 % da população»
Coimbra, 20 jun 2020 (Ecclesia) – A Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra alerta para as desigualdades na sociedade e apela “a solidariedade” de todos os cidadãos na atual “pandemia da fome”, um “tempo de crise” originado pelo Covid-19 que é “momento de desafio”.
“Devemos exigir respostas coletivas, estruturadas e sustentadas, mas, individualmente, cada um de nós não pode deixar de agir, pois que tem o dever de dar a mão a quem, ao nosso lado, precisa de pão e esperança. À indignação perante a injustiça, saibamos juntar o nosso comprometimento e a nossa ação”, lê-se no documento enviado à Agência ECCLESIA pelo presidente da comissão, José António Henriques dos Santos Cabral.
A Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra assinala que no atravessar desta “Pandemia da Fome” os católicos, como todos os cidadãos, “têm uma responsabilidade acrescida do Evangelho” indo ao encontro dos mais necessitados, “vivendo a fraternidade e a solidariedade”.
“Este é o tempo de superar o determinismo e as atitudes passivas com liberdade e responsabilidade”, refere a organização, indicando que “crise é, também, o momento de desafio”, decisivo para vencer os desequilíbrios e restabelecer a confiança.
A Comissão Justiça e Paz da Diocese de Coimbra contabiliza que a pobreza ameaça “superar os 18% da população e 1,8 milhões de pessoas estão risco”, observando que em diversas zonas “à ausência de condições dignas de vida acresce, muitas vezes, a anomia e a ausência de valores”.
No distrito de Coimbra o desemprego “aumentou 33,6%” e “tornou-se um lugar-comum para largas margens da população” nacional, um dos “impactos mais graves” da pandemia Covid-19 que “recai agora sobre aqueles que, num ápice, se viram sem qualquer fonte de rendimento”.
Em Portugal “cerca de um milhão de pessoas vivem com menos de 250 euros por mês”, uma “realidade pungente” que convoca, num país “cada vez mais assimétrico” em termos territoriais, sociais e económicos, onde as fraturas são “cada vez mais visíveis, mostrando desigualdades que vão desde a estabilidade social e económica de alguns até à incerteza do futuro daqueles para quem o viver o dia seguinte é já uma incógnita”.
“Desde uma juventude flagelada pelos baixos salários e o desemprego até uma geração mais velha que, podendo ser privilegiada nalgumas áreas, é muitas vezes o suporte de filhos, e netos”, exemplifica.
A Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra constata também que “é reconfortante” a forma com “grande parte da sociedade civil se mobilizou” para enfrentar o desafio de uma vida e muitas das instituições de solidariedade social, em particular ligadas à Igreja, “assumem-se agora como pilares fundamentais na procura de um equilíbrio mínimo em termos de coesão social”.
Neste contexto, exemplifica que a Cáritas Diocesana de Coimbra “apoia centenas de pessoas”, muitas sobrevivem com o rendimento social de inserção, o Centro de Acolhimento João Paulo II “assiste 260 famílias”, e vai receber os fundos angariados no ‘Arco Material’ da campanha solidária ‘AME, São José Cuida!’, de apoio às vítimas da Covid-19 da Paróquia de São Pedro, enquanto a Cozinha Económica Rainha Santa Isabel apoia “mais de 500 pessoas” e serve no refeitório social “mais de 800 as refeições, duas vezes ao dia”.
Na sua posição sobre o momento que se vive em Portugal, em consequência “da pandemia que a todos afeta”, a Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra alerta que o país “não pode ser gerido em obediência a meros interesses privados ilícitos, desprezando o sentido do bem comum”.
CB