Clero: Cardeal-patriarca de Lisboa alerta para riscos de «relativizar» fé da Igreja

D. José Policarpo diz que padres devem evitar transformação em «funcionários do sagrado»

Fátima, Santarém, 07 set 2012 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa disse hoje em Fátima que os padres devem professar a fé da Igreja com “fidelidade”, evitando leituras pessoais que contestem ou contrariem a doutrina católica.

“Se o sacerdote no exercício do seu ministério relativizar esta fé da Igreja e, ao sabor dos tempos, das teologias e correntes de opinião, optar por uma maneira pessoal de acreditar, ele torna-se um ‘funcionário do sagrado’, deixa de ser pastor”, referiu D. José Policarpo, na conferência conclusiva do 7.º Simpósio Nacional do Clero, que reuniu cerca de 500 participantes desde terça-feira.

Numa intervenção intitulada ‘O Padre, peregrino da Fé’, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse ser “preocupante saber de sacerdotes que, acerca de aspetos vitais, ousam dizer: ‘a Igreja pensa que …, mas eu penso de outro modo’”.

“Quantos ensinamentos são proferidos por sacerdotes, sobretudo na orientação pastoral dos fiéis, afastando-se da verdade da Igreja, expressa no seu magistério autêntico”, declarou.

Neste contexto, D. José Policarpo frisou que o problema da verdade é “uma aventura apaixonante” na história da humanidade, na qual “religiões, filosofias, correntes culturais, procuram influenciar as pessoas”.

“Sobretudo hoje, com os poderosos meios de comunicação, [a verdade] tornou-se individual, relativizou a dimensão comunitária de verdade de um Povo”, acrescentou.

Para qualquer padre, indicou o cardeal, “ser peregrino da fé é, necessariamente, ser peregrino da verdade”.

“Peregrinos da fé, somo-lo da fé da Igreja e não da nossa fé pessoal, concebida à nossa maneira. Esta é a força do cristão e, de modo particular, de nós sacerdotes: a nossa fé pessoal é a fé da Igreja”, precisou.

Este responsável recordou que Bento XVI proclamou um Ano da Fé (outubro de 2012-novembro de 2013), para comemorar o quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), e registou “tristeza e preocupação” perante as “correntes atuais de reinterpretação” do magistério conciliar.

“A confirmada atualidade do Concílio torna desvios da verdade todas as suas leituras que não sejam motivadas por uma sã hermenêutica”, frisou.

Para o patriarca de Lisboa, a fé “não é, apenas, uma atitude da inteligência, é um projeto de vida, uma exigência de santidade”.

D. José Policarpo evocou o testemunho dos mártires que “deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho” e dos homens e mulheres que “consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade”.

“Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma ação em prol da justiça, para tornar palpável a Palavra do Senhor”, prosseguiu.

O presidente da CEP elogiou os que são capazes de “dar testemunho do seu ser cristão na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados”.

“Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim”, concluiu.

No debate que se seguiu à intervenção, D. José Policarpo alertou para a “forte racionalização” da fé, nos últimos séculos.

OC

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