CIRP quer combater tráfico humano

Religiosas promovem ação de formação para sensibilizar para as «nova formas de escravatura» O tráfico de mulheres gera cerca de 25 milhões euros no mundo. Um número assustador, tanto quanto o drama das mulheres vítimas desta nova escravatura. Este valor consta de um relatório da Organização Internacional de Migrações (OIM), divulgado pelo director regional Eugenio Ambrosi, que declarou que uma mulher pode ser «vendida» a uma rede de exploração sexual por um valor entre 100 e 1.600 dólares (entre 77 euros a 1,23 mil euros). A CIRP tem dado a conhecer o trabalho feito nesta área e, mais importante, tem ajudado a sensibilizar as instituições religiosas a abrirem-se a “estas novas realidades”. Na continuação desse trabalho, decorre em Fátima uma Acção de Formação sobre “Tráfico de Pessoas”. A Irmã Júlia Barroso, Presidente da Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas dá conta à Agência ECCLESIA que estão a desenvolver um trabalho de sensibilização junto de todas as congregações religiosas. Cerca de 60 participantes, “são um número razoável para o que esperávamos”, sendo este “um tema novo junto dos religiosos”, admite. Esta ano a formação abre-se não exclusivamente a irmãs, mas também a sacerdotes e religiosos, e a leigos que já desenvolvem trabalho junto de instituições e mulheres vítimas de tráfico. A abordagem junto das congregações religiosas, habituadas a missões “mais clássicas” é nova. “Não é fácil para pessoas habituadas a missões mais tradicionais adiram a uma problemática tão delicada, mas também muito escondida”, admite a Presidente da Comissão. Mas este é um drama que não pede um quebrar as missões tradicionais. A Irmã Júlia Barroso avança que todas as congregações podem estar atentas a este drama a partir das sua missões “mais tradicionais”. “A necessidade da prevenção, do cuidado às vítimas cabe a todos os carismas”, avança. O drama “das novas escravaturas”, tem ganho destaque junto da comunicação social. Há muitos formas de atrair estas mulheres mas, na maioria das vezes, são outras mulheres, ligadas de alguma forma à família da vítima e que têm a confiança desta (vítima), como vizinhas ou até mesmo membros da própria família, que apresentam uma oferta de emprego bem remunerada no estrangeiro, ou até no próprio país, mas longe da família. Os angariadores também recorrem a tácticas como a publicação de anúncios, nos quais o trabalho a desenvolver não está claramente especificado, castings para trabalhar no mundo da publicidade ou como modelos, e até sequestros. Na maioria dos casos, os «contratantes» encarregam-se das despesas da viagem, pelo que quando as mulheres chegam ao seu destino já têm uma dívida contraída. As vítimas do tráfico de mulheres podem transformar-se em angariadoras ou exploradoras, seja por coacção ou como resultado dos abusos sofridos. 50% das mulheres não têm consciência da sua condição de vítima. Além dos agentes directos, o tráfico conta também com a intervenção dos secundários, como motoristas de táxis, funcionários públicos, polícias, juízes e políticos que colaboram implicitamente ou que, com a sua indiferença, tornam possível este tipo de prática. O Plano Nacional de Luta contra o Tráfico de Pessoas, desenvolvido pelo Governo, e que em breve será publicado, aposta no trabalho em rede. Um plano, apresentado na acção de formação por Rui Marques, Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural e “muito bem feito”, que prevê que as instituições, governo, autoridades e demais organizações, para que o trabalho seja possível, “tanto a nível nacional, como internacional”. A Ir. Júlia aponta que tanto o país de destino como o de destino “têm de estar envolvidos na luta”. Portugal aprovou um Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Pessoas que além de dar mais meios às autoridades para investigar, cria o conceito de “tolerância zero para os traficantes e apoio total às vítimas de tráfico”. “É um plano que está a começar e que representa uma ferramenta muito importante para que se combata esta realidade”, afirma Rui Marques, considerando que é “dramática esta experiência de ser escravo desta rede que a explora do ponto de vista sexual ou laboral ou mesmo tráfico de órgãos”. Para o Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, o trabalho das instituições da igreja é “insubstituível” porque são, em muitos casos, os “verdadeiros actores intervenientes no terreno”. A sensibilização é o primeiro passo. “Adoptar uma posição crítica”, trabalhar na linha da prevenção junto de crianças, jovens e adolescentes, “criando uma mentalidade e um despertar para esta nova escravatura”, refere a Irmã Júlia Barroso. O tráfico humano ganha contornos de negócio e gere milhões de euros à volta do drama de mulheres, uma situação passível de ser ultrapassada “quando se conseguir reunir as forças e fizerem um trabalho global e conjunto”, aponta a Presidente da Comissão. Ainda a decorre, a acção de formação prevê a reflexão em torno das questões jurídicas, para um melhor enquadramento do âmbito legal e ainda um espaço de partilha. Hora de apresentar o trabalho feito e de perspectivar o futuro.

Partilhar:
Scroll to Top