Cinema: Um estranho no seu país

Em 2003, o realizador Thomas McCarthy dirigiu “A Estação”, um drama algo insólito gizado em torno de um anão cujo isolamento em que se propõe viver é interrompido pela passagem de duas personagens muito díspares. Em foco, um inexplicável desejo de solidão a confrontar-se a cada momento com a necessidade humana de comunicar com o seu próximo. Cinco anos mais tarde, McCarthy regressa à cena com “O Visitante”, um filme que já soou certamente a muitos ouvidos pela (justíssima) nomeação aos Oscars do seu actor principal. De facto, Richard Jenkins veste na perfeição a pele do Prof. Walter Vale: um catedrático de Economia que vive a sua viuvez e a elevada mas insípida vida académica sem brilho nem emoção até ao dia em que, incumbido de uma apresentação em Nova Iorque, se depara com um casal de imigrantes ilegais instalados no seu apartamento. Sem terem para onde ir, Tarek – sírio – e Zainab – senegalesa- são autorizados a permanecer por uns dias no apartamento de Vale, abrindo caminho a uma relação que, não fosse o acaso, dificilmente se estabeleceria. Em breve, a cumplicidade que se estabeleceu entre os três será determinante no desenvolvimento de um acontecimento trágico. O filme cresce em interesse e intensidade enquanto retrata e questiona uma América ainda muito colada ao 11/Setembro – há seis anos não nos pareceria provavelmente tão descabida. Uma América que faz os seus sentirem-se estranhos no seu próprio país e que, na relutância de acolher novos americanos parece afastar-se da sua génese. Pese embora algum recurso a imagens óbvias, já perto do final do filme, este não deixa de atender a todos os critérios que concorrem para uma proveitosa ida ao cinema! A acrescentar ao desempenho de Richard Jenkins (um actor fenomenalmente capaz de comunicar apenas pelo olhar, como vimos recentemente no ácido “Destruir depois de Ler”, dos irmãos Coen), é de aplaudir o de Danai Gurira, uma Zainab muito expressiva. Margarida Ataíde

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