Cinema Português em Cabo Verde

Embora tenha hoje uma produção anual considerável, tendo em conta os reduzidos meios disponíveis, o cinema português não deve continuar a ser conta-bilizado apenas em números, mas necessita de uma análise independente e séria da evolução da sua qualidade. Nem o elogio fácil, por que é nosso, nem a crítica cega e severa, também por que é nosso, será a melhor forma de contribuir para o desejado progresso. Há que defender uma quantidade mínima capaz de dar experiência aos profissionais; há que rodear a limitação de meios, ou pelo recurso à co-produção ou pela criação de obras em que o talento e a inteligência tenham mais peso que as verbas utilizadas. «A Ilha dos Escravos» é um exemplo de como se pode aproveitar este caminho. Sem atingir resultados muito elevados não compromete o seu autor. Co-produzido com uma empresa brasileira e outra espanhola, contou ainda com o apoio local em cabo Verde, onde a maior parte da acção se desenrola. Com a opção tomada, o filme conta com um cast muito variado, em que se incluem actores de elevada experiência e qualidade, como é o caso dos brasileiros Milton Gonçalves e Zezé Motta, enquadrando os restantes, de valor mais variável. O retrato do ambiente da época, em pleno Século XIX, serve de fundo ao conflito permanente e a vários níveis entre Miguelistas e Liberais, conflito que se cruza com os diferentes interesses das sociedades cabo-verdianas; os brancos; os comerciantes negros e brancos; os escravos. No seu conjunto, e independentemente de muitas críticas que se possam fazer a pormenores da sua execução, fica um filme interessante. Contou com o apoio do ICAM, como se verifica na maioria das produções portuguesas. Mas, note-se, embora com baixa frequência começam também já a surgir filmes pagos inteiramente pelos seus produtores, o que num mercado tão limitado como o nosso é um risco que poucos querem correr. Francisco Perestrello

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