Cinema Português: Apoios e Estrutura

Sobretudo a propósito da reposição de «O Sangue», João Lopes deu uma entrevista ao Diário de Notícias publicada com o título arrasador “Estrutura Técnica do Cinema Português Agoniza”. É o ponto de vista de quem está envolvido na realização, no contacto directo com a execução dos filmes.

Do lado da crítica, e desde que não se procure uma informação aprofundada, o panorama não parece tão negativo, uma vez que se sucedem as estreias de cinema português, aumentando, ou pelo menos não diminuindo, o número de longas-metragens produzidas em cada ano, com um interesse crescente pelo documentário.

Há, no entanto, indícios que não tornam muito favorável o panorama futuro. Se há estreias é por que o ICA, Instituto de Cinema, financia com verbas consideráveis um limitado número de produtores que, em cada projecto, têm incluído um realizador que contribui, de forma decisiva, para a sua escolha entre os muitos concorrentes. Obtido o subsídio há que batalhar para conseguir o produto final, seja ele produzido em Portugal seja no estrangeiro, sobretudo quando o projecto prevê co-produção. Veja-se o caso de Manoel de Oliveira que, de forma geral, filma em França, tendo a maior parte dos seus filmes mais recentes co-produção deste país.

De nada valem os sucessivos anúncios de reestruturação das áreas técnicas ou mesmo da construção de novos estúdios, de grande dimensão, capazes de darem suportem a uma parte considerável do cinema europeu. Um projecto de tal dimensão foi anunciado para o Algarve, com referência em Maio passado na abertura do festival de Cannes. Mas seguiu-se um longo silêncio o que, em princípio, não augura nada de bom.

Enquanto se espera é de realçar que o cinema português consegue, mesmo assim, trazer a público uma ou outra obra manifestamente interessante, mas continua com fortes limitação quanto à possibilidade de alargar a sua produção a filmes de ambição mais considerável.

Francisco Perestrello

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