Cinema: Os enigmas da Matemática

«O Enigma de Fermat», realizado por Luis Piedrahita e Rodrigo Sopeña (experientes argumentistas mas estreantes na realização) é um curioso trabalho que oscila entre o mistério e o thriller, levando o espectador a um permanente raciocínio sobre os problemas postos a quatro matemáticos, encerrados num misterioso quarto que vai encolhendo sempre que os problemas transmitidos não são atempadamente solucionados. São problemas que não requerem uma matemática muito profunda, ao contrário do que faz crer o maketing do filme. Não deixam por isso de ser um desafio interessante para o espectador, mesmo que, em certos casos, sejam simples charadas já muito conhecidas. Os realizadores – também argumentistas do filme – não primam pela originalidade, o que não impede que tenham sabido criar uma sucessão de dados interessantes e, sobretudo, manter a narrativa dentro de um ritmo que faz esquecer que a maior parte da acção se passa numa sala e no seu anexo. Para tal contribui de forma decisiva a qualidade dos diálogos, em que se inclui algum humor muito bem conseguido. Sob o ponto de vista temático incluem-se as mais diversas vias de análise da natureza humana, pondo-se em evidência a inveja, a fraude e a ambição desmedida, bem como, em sentido oposto, a dedicação ao estudo e ao desenvolvimento de novas teses matemáticas que contribuam para o desenvolvimento da ciência. Tudo isto de uma forma bastante convincente, tendo em conta a boa direcção de actores e, da parte destes, o trabalho especialmente conseguido de Lluís Homar e Federico Luppi, este último no papel de Fermat, a chave de todo o enigma. É importante que o cinema europeu, nomeadamente o espanhol, se alargue a novos géneros e a ritmos narrativos mais compatíveis com a vertente lúdica, para que não se pense que, não sendo um filme americano ou de sua influência, é necessariamente lento e difícil de aguentar final. Francisco Perestrello

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Agência ECCLESIA

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