Cinema: no mundo do petróleo

Um tema, um realizador e uma boa mão cheia de dólares são essenciais para a produção de um filme americano. Mas para que este atinja os resultados desejados os dois primeiros têm de ser de boa qualidade. “O Reino” parece ter o primeiro e o terceiro elemento referidos com, à partida, todas as condições para uma análise interessante da política no Médio Oriente no que refere à sua relação com os países ocidentais. Só Peter Berg, o realizador, não se mostra à altura para trabalhar da melhor maneira os dados de que dispõe. Logo de início conta-se com uma análise rápida e relativamente profunda da situação nos países árabes, especialmente na Arábia Saudita, descritos num ritmo tal que requerem a maior atenção por parte do espectador. É aqui que uma base americana, habitada por gente do petróleo e suas famílias é alvo de um ataque terrorista de grandes dimensões, de que resultam numerosos mortos e feridos. Muito ciosas do seu poder, a polícia e forças armadas locais não vêem com bons olhos uma investigação americana, pelo que esta só se vem a tornar possível mediante difíceis negociações e limitada à intervenção de quatro agentes dos FBI e a um curto período de cinco dias. A descrição dos passos dados pelos quatro agentes é um pretexto directo para a propaganda do poderio americano e da eficiência das suas forças de segurança, sem pejo de a estas se atribuir uma acção inverosímil e infalível, em que se gastam, de parte a parte, as munições de uma guerra, com um confronto entre armas ligeiras e rockets, quatro de um lado e dezenas do outro, mas sempre com a vida a salvo para “o bom americano”. Este tipo de cinema de acção teve a sua época de ouro há algumas décadas, mas as tentativas recentes de o ressuscitar não são de molde, como no caso presente, a tornar aceitáveis narrativas fanta-siosas que se procuram credibilizar com a fútil indicação “inspirado num caso real”. Francisco Perestrello

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