Cinema: Manoel de Oliveira em tom ligeiro

Prosseguindo a sua exuberante carreira com um (ou mais) filmes por ano, Manoel de Oliveira surge agora numa faceta que, não sendo inteiramente nova, é a que menos é referida nos comentários sobre a sua filmografia. Partindo de um pequeno conto de Eça de Queiroz realiza «Singularidades de uma Rapariga Loura», mostrando um sentido de humor incontornável, numa comédia para o espectador sorrir com gosto, mas não para rir de “gags” ou processos congéneres. O argumento desenvolve-se com muita inteligência, dando oportunidade a situações em si mesmo carregadas de bom humor, mesmo que este se exprima sempre de uma maneira inteligente e bastante discreta. Contando com um ritmo de narrativa bem mais vivo que o habitual em Oliveira o filme não deixa de estar totalmente marcado pelo seu estilo, com uma direcção de actores impecável até ao último pormenor e uma criação de ambientes que se pode considerar notável. Sem pressas, mas sem lentidão, seguimos o romance entre um contabilista e a loira do leque chinês, que se conhecem apenas da mútua visão de janela para janela, em lados opostos da rua. Dos actores mais habituais em filmes deste cineasta apenas Ricardo Trêpa aparece em primeiro plano, mais exactamente em muito primeiro plano, no papel do apaixonado contabilista Macário, que enfrenta o seu tio e patrão para poder casar, e só então se confronta com a realidade da vida. Mas, em papéis de menor relevo mas significativos, não deixamos de contar com Leonor Silveira e Luís Miguel Cintra, uma fidelidade que se mantém de há muito anos e que constitui a imagem de marca nos filmes de Oliveira. Depois de «Cristóvão Colombo – O Enigma» e duas curtas metragens que realizou ao longo de 2008, Manoel de Oliveira regressa a um estilo bem mais ligeiro, que tem usado episodicamente ao longo da sua carreira, com a mesma inspiração e talento que caracterizam as suas obras mais densas. Francisco Perestrello

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