Cinema: Imperador

Margarida Ataíde

Japão, pós-IIGuerra Mundial. Consumada a rendição aos Estados Unidos, dois generais americanos – Douglas MacArthur e Bonner Fellers – estão em território japonês com a incumbência de julgar o papel do imperador Hirohito na guerra. Em causa está a consideração, ou não, da sua culpa como criminoso de guerra.

O clima é de extrema tensão e os generais têm apenas dez dias para deliberar, sabendo de antemão que, seja qual for a decisão, esta influenciará o curso da história. Um processo extraordinariamente difícil e delicado que se torna mais complexo à medida que conhecem o imperador e a sua cultura fortemente enraizada em valores como a honra, a lealdade e a obediência. Mas acima de tudo, sob o princípio de que o poder e a responsabilidade do imperador, acima da pessoa, é de ordem divina.

Desde que em 2005 Aleksandr Sokurov realizou ‘O Sol’ (‘Solntse’), focando exatamente o mesmo período da história que este ‘Imperador’ de Peter Webber aborda, tornou-se muito mais difícil atingir o nível de aprofundamento cinematográfico que o imperador Hirohito exige ante o que representou para história do Japão e do mundo – não só ele próprio como o período de transição na liderança dos destinos do seu império. A extraordinária aptidão e motivação de Sokurov para o desenho de personagem tem sido bem comprovado na sua filmografia, e a obra em referência não constituí exceção.

Em ‘Imperador’, que agora estreia, Peter Webber, que é também de uma outra geração e cultura, além de outro registo cinematográfico que pouco ou nada tem que ver com o realizador russo, opta por amplificar o olhar sobre Hiroito à perspetiva americana, usando como espinha dorsal do filme o dilema dos dois generais incumbidos da missão de julgar os atos do imperador. O filme tem o seu maior interesse na progressão do peso que a relação entre duas culturas bem distintas ganha ao longo do processo, tornando cada vez mais complexa e menos linear a avaliação requerida. E o seu menor interesse, pelo impacto que retira a este mesmo dilema, nas deambulações pela história de amor que paralelamente se desenvolve ao longo da narrativa.

Torna-se assim um produto comum de origem americana e algo insonso, a que o desempenho de Tommy Lee Jones (no papel de MacArthur) dá algum tempero, contextualizando modestamente um período importante da história. Entre efeitos decorativos narrativos e visuais, apelará muito mais aos sentidos que ao intelecto e singrará, com igual modéstia, no circuito comercial, considerada a forte concorrência dos muitos desejados sol e calor de um Verão que tardou em chegar…

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