2008 e 209 foram dois anos excecionais para Gianni Di Gregorio. Ator, realizador e, sobretudo, argumentista conseguiu, neste tempo, conquistar os primeiros prémios internacionais da sua carreira: o reconhecimento do seu trabalho começou numa mais subtil coautoria do argumento de “Gomorra”, passando depois para o grande destaque com “Almoço de 15 de agosto” que escreveu, realizou e protagonizou.
Aplaudido pela crítica além e aquém-fronteiras “Almoço de 15 de agosto” foi também apreciadíssimo pelo público português capaz de reconhecer a verosimilhança do enredo da vida de Gianni: homem reformado que vive com uma mãe dominadora e caprichosa, é solicitado por um amigo para que albergue a sua mãe por uns dias na casa de ambos. Recetivo, Gianni acede ao pedido do amigo mas a fama depressa se espalha e, não tarda, está rodeado de senhoras de idade proporcional ao número de caprichos que Gianni se desdobra para gerir.
É com o balanço dado pela qualidade reconhecida deste filme que Di Gregorio se lança à realização de “Gianni e as Mulheres”. A expectativa, criada pelos mesmos motivos que justificaram a premiação em Londres ou Veneza e equivalente à saudade das personagens do filme antecessor é enorme.
De facto, o cordato Gianni e a caprichosa Mãe Valeria, ainda mais velha mas igualmente charmosa, estão de volta, num contexto algo diferente: Gianni é casado e pai de uma filha já maior e não consegue retirar da vida mais entusiasmo do que aquele que o leva a cumprir as tarefas diárias da casa: ou seja, nenhum. Ir às compras, levar o cão a passear, arrumar e limpar a casa.
Acreditando que algo mais picante pode resolver a indolência de Gianni, um amigo aconselha-o a encontrar uma amante.
Passe-se a amoralidade da “resolução”, “Gianni e as Mulheres” sobrevive infeliz e quase exclusivamente do capital acumulado pelo filme anterior, sem direito a praticamente nenhum investimento que consiga em primeiro lugar manter o nível de interesse e, em segundo, dar-nos a suficiente frescura que uma nova obra exige.
Margarida Ataíde