Cinema: Fados na Índia

Um dos problemas que sempre afectou o cinema português foi o pequeno mercado disponível. Sobretudo em tempos que já lá vão, em que comédia dominou as produções de maior sucesso, parecia impossível encontrar na exportação uma saída rentável já que a tradução da “piada portuguesa” se tornava, de forma geral, inviável. Depois do período de crise de qualidade que antecedeu a nascimento no Novo Cinema português, a partir de “Os Verdes Anos”, de Paulo Rocha (1963), a nossa produção foi progredindo muito lentamente, em termos de aceitação em países estrangeiros pontuada em boa parte por Manoel de Oliveira e, em estilo bem distinto, por João César Monteiro. Nos anos mais recentes começou a ser trivial um filme português estrear em alguns países do mundo. Mais na Europa, mas também no mercado americano as oportunidades vão surgindo, mesmo que em áreas limitadas do cinema de arte e ensaio, com cópias legendadas em vez de dobradas, como é norma na maior parte dos mercados a que temos acesso. A co-produção, sobretudo com a França mas também com a Espanha, abriu novos caminhos na área de exploração comercial. Mas foram sobretudo os Festivais, que se multiplicam como cogumelos, que permitiram um maior cruzamento de culturas. Dentro deste último panorama registe-se a presença de “Fados”, de Carlos Saura, recebido com entusiasmo no Festival Internacional de Cinema da Índia, numa coincidência com o relançamento do cinema popular indiano em Portugal. E dada a forte componente musical dos filmes indianos compreende-se a curiosidade por uma música de estilo bem diferente, o fado, sobretudo tendo em conta que ainda resta em Goa uma forte influência da nossa cultura. Em contrapartida esperemos que os filmes indianos de mais alta qualidade, mas sem dúvida de mais difícil exploração comercial, venham cá a ser intercalados com o cinema de Bollywood, que é sem dúvida uma curiosidade mas encontra dificuldades de aceitação nos cinéfilos mais rodados, mas minoritários. Francisco Perestrello

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