Cinema: «É na Terra não é na Lua»

Em 2007 Gonçalo Tocha surpreendeu a terceira edição do Indielisboa com “Balaou”, um quase ensaio documental de forte registo poético filmado sobre as águas do Atlântico ao largo dos Açores. Atracou no final dessa edição empunhando o prémio de melhor longa metragem nacional. 

Pouco depois dessa viagem inspirada no diário da sua Mãe, cuja vida e morte assim tentava interrogar e compreender, Tocha torna a abrir o coração aos segredos e encantos do arquipélago, concentrando-se desta feita na ilha do Corvo para se deixar tocar e espantar com aquilo que virá a ser “É na Terra não é na Lua”. 
O que começa por parecer um registo puramente documental da fantástica e desolada paisagem natural e humana do Corvo depressa se inscreve numa nova trama poética, como se as mãos sulcadas daquela mulher entretecessem não só o típico gorro azul e branco que vemos tricotar mas também a erva fresca daquele cume ventoso, o casario, as pedras de basalto das ruelas, o terço e as preces desfiadas numa igrejinha local…
O Corvo, a menor das ilhas do arquipélago, transforma-se assim num lugar de peregrinação interior ao mais remoto lugar de uma vivência simultaneamente enraizada na terra e ancorada no mar, ao mais extraordinário santuário de beleza natural. 
Gonçalo Tocha pertence a uma nova geração de realizadores portugueses genuinamente interessados em escutar e perscrutar a essência da sua e nossa identidade, o que é verdadeiramente impressionante. Atitude patente nas suas palavras e no seu trabalho. Só dessa atitude disponível podem surtir obras como as suas que, sem meios extraordinários e preconceito algum, conseguem conduzir plateias inteiras de espetadores por caminhos quase virgens, deixando intacta a paisagem mesmo depois de nela todos termos passado.     
É esta sensibilidade particular, este cuidado extremo naquilo que cinematograficamente toca e, sobretudo, a forma harmoniosa como nos toca que faz com que “É na Terra não é na Lua” continue a percorrer o mundo, levando a extraordinária beleza da pequena grande ilha do Corvo mais e mais além, entre festivais, ciclos e mostras de cinema. 
Margarida Ataíde

 

Em 2007 Gonçalo Tocha surpreendeu a terceira edição do Indielisboa com “Balaou”, um quase ensaio documental de forte registo poético filmado sobre as águas do Atlântico ao largo dos Açores. Atracou no final dessa edição empunhando o prémio de melhor longa metragem nacional. 

Pouco depois dessa viagem inspirada no diário da sua Mãe, cuja vida e morte assim tentava interrogar e compreender, Tocha torna a abrir o coração aos segredos e encantos do arquipélago, concentrando-se desta feita na ilha do Corvo para se deixar tocar e espantar com aquilo que virá a ser “É na Terra não é na Lua”. 

O que começa por parecer um registo puramente documental da fantástica e desolada paisagem natural e humana do Corvo depressa se inscreve numa nova trama poética, como se as mãos sulcadas daquela mulher entretecessem não só o típico gorro azul e branco que vemos tricotar mas também a erva fresca daquele cume ventoso, o casario, as pedras de basalto das ruelas, o terço e as preces desfiadas numa igrejinha local…

O Corvo, a menor das ilhas do arquipélago, transforma-se assim num lugar de peregrinação interior ao mais remoto lugar de uma vivência simultaneamente enraizada na terra e ancorada no mar, ao mais extraordinário santuário de beleza natural. 

Gonçalo Tocha pertence a uma nova geração de realizadores portugueses genuinamente interessados em escutar e perscrutar a essência da sua e nossa identidade, o que é verdadeiramente impressionante. Atitude patente nas suas palavras e no seu trabalho. Só dessa atitude disponível podem surtir obras como as suas que, sem meios extraordinários e preconceito algum, conseguem conduzir plateias inteiras de espetadores por caminhos quase virgens, deixando intacta a paisagem mesmo depois de nela todos termos passado.     

É esta sensibilidade particular, este cuidado extremo naquilo que cinematograficamente toca e, sobretudo, a forma harmoniosa como nos toca que faz com que “É na Terra não é na Lua” continue a percorrer o mundo, levando a extraordinária beleza da pequena grande ilha do Corvo mais e mais além, entre festivais, ciclos e mostras de cinema. 

Margarida Ataíde

 

 

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