Cinema e Cultura

Com o fim da Censura deu-se a derrocada do cineclubismo A dicotomia do Cinema entre a cultura e o divertimento leva a considerações e debates, tanto por críticos como cinéfilos ou simples espectadores ocasionais. Há mesmo quem negue ao cinema a sua componente cultural afirmando que se deve realçar apenas o divertimento.É certo que o conhecimento da linguagem cinematográfica, do significado mais profundo de muitas das suas sequências ou planos, aumenta o prazer de quem acompanha uma obra e alarga o campo de escolha, tomando como válidos, e muitas vezes como os mais agradáveis de ver, trabalhos que sem uma necessária preparação do espectador se poderiam tornar fastidiosas.O ensino secundário nunca abriu em Portugal uma área de estudo da imagem e sua conjugação com o som. Mesmo a nível universitário é relativamente recente a inclusão desta área nas faculdades. Ao longo de muitos anos houve um trabalho supletivo a cargo dos cineclubes, que sobretudo nos anos 50 e 60 do século findo cobriam as diversas tendências políticas e culturais, ou mesmo ideológicas. A censura, que limitava o acesso ao mercado de muitas das obras mais importantes, era uma tentação, e os cineclubes desafiavam-na, de uma forma ou de outra, até ao limite. E essa mesma censura, tendo em conta o âmbito restrito das projecções, era menos severa para tais sessões, permitindo um ligeiro alargamento de critérios, por vezes ultrapassados "à socapa" pelos próprios cineclubistas. Foi assim que vi, bem antes de 1974, "O Couraçado Potemkine" que não era, obviamente, o filme anunciado. Com o fim da Censura deu-se, infelizmente, a derrocada do cineclubismo. Há, ainda, um ou outro resistente, mas dada a possibilidade de acesso a todos os filmes no circuito comercial, ou nas chamadas sessões clássicas – hoje também praticamente extintas – o espírito de desafio deixou de existir. Mas, pior do que isso, parecem ser poucos os que verdadeiramente pretendem cultivar os seus conhecimentos.Resta com muita eficiência a Cinemateca Portuguesa, por agora só em Lisboa, que repetidamente projecta os grandes clássicos e permite um instrutivo contacto com o passado.

Francisco Perestrello

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