Cinema: Anjos, Demónios e Conspirações

Quatro anos após “O Código Da Vinci” eis que chega “Anjos & Demónios”. Campeão de vendas nas livrarias, a sua amplitude, outrora conquistada à custa dum potente veículo comercial, veio então a colher uma efémera onda de manifestações de diversos sectores. Já sem esse veículo e, desmontada boa parte da insuflada polémica em torno do primeiro episódio, “Anjos & Demónios” investe numa acelerada narrativa de ficção: assente numa teoria da conspiração nascida próxima duma Igreja em plena eleição papal, apresenta-a, não tão temente a Deus como à Ciência e apreensiva com os seus avanços, mais concretamente com o processo de aceleração de partículas que permitem a criação da anti-matéria. Algo que aqui a Igreja procura negar, por esta se equiparar à génese da criação divina, mas que, tudo indica, um esquecido movimento iluminista do séc. XVII ameaça trazer à luz de forma dramática, ou seja, dizimando a Cidade do Vaticano caso a Igreja não mude de posição. Após inúmeras reviravoltas, um esforço para criar um clima de tensão, sequências violentas para “abanar” o espectador e um torpor de pistas mais ou menos erráticas, conclui-se que nada – nem a Igreja, nem os Illuminati, nem os bons, nem os maus, culpados ou inocentes são o que parecem… o que nos deixa relativa e aborrecidamente tranquilos. Tranquilos, por nenhuma das ameaças às vidas e às crenças que sustentam o filme se provarem, no fim, credíveis. Aborrecidos, pela ausência de verdadeiro desafio à nossa inteligência, sabedoria, conhecimento ou crença. Relativo, porque uma inquietação fica: a de ver mais um filme preterir a coerência em favor da confusão mental, facilitada pelo excesso e velocidade de informação, misturando dados concretos, consistentes e reais, aparentemente ficcionados, com derivações fictícias, aparentemente reais. Um estilo que aposta mais na ignorância do que no enriquecimento do público.

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