Ciganos lamentam discriminação

Representantes da Igreja e associações civis reunidas em Fórum Ibérico

O povo cigano “foi e continua a ser discriminado há mais de 500 anos”, disse Dinis Abreu, Presidente da CIGLEI (Associação Cigana de Leiria), no Fórum Ibérico sobre a Etnia Cigana.

A decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até dia 9, este Fórum pretende analisar a problemática caracterizada relativamente à conjuntura da etnia cigana em Portugal e Espanha.

Dinis Abreu sublinhou que os ciganos são uma comunidade com uma “cultura própria e tradições diferentes, com regras de conduta que respeitamos, mas também uma comunidade com vontade de modernização e com anseios de desenvolvimento e de progresso”.

“Cansados de tanta discriminação”, os ciganos tiveram de criar o seu próprio modo de vida. Primeiro, “nas feiras, a venda do gado e, mais tarde, em feiras e mercados, o comércio do têxtil e calçado”.

Actualmente, apesar da “forte vontade do cumprimento da lei”, o presidente da referida associação lamenta que essas mesmas leis “estão desajustadas da vida real e, por isso, não contribuindo para um harmonioso desenvolvimento da etnia cigana”.

“São leis feitas por burocratas de gabinete que nem sonham o que é ser comerciante em feiras e mercados, não tendo consultado quem sente as agruras do dia-a-dia de um cigano”, acrescenta.

Na apresentação do «III Relatório sobre Portugal pela Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI): aspectos relativos aos ciganos», Fernando Ferreira Ramos disse aos participantes que “há um agravamento das situações das comunidades ciganas em Portugal”.

Apesar dos “esforços desenvolvidos” pelas instâncias internacionais, este membro do ECRI afirmou à Agência ECCLESIA que existe “uma necessidade de prever e de adoptar uma estratégia nacional de luta contra o anti-ciganismo”.

O relatório – datado de 2006 – chega à conclusão que “há uma exclusão social das comunidades ciganas a viver em Portugal”. 

Em declarações à Agência ECCLESIA, D. António Vitalino, presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, afirmou que “é necessário mudar a mentalidade sobre a etnia cigana” e “criar um certo acolhimento a estas minorias”. Esta alteração “demora muitas gerações”.

Apesar de reconhecer que até ao momento nenhum país conseguiu “a inclusão desta etnia”, D. António Vitalino refere que há países “mais adiantados que o nosso” nesta área.

A criação de condições “é uma ferramenta necessária” para a inclusão. Uma criança que vive numa “tenda ou na barraca” não faz o seu círculo de amigos e “não cria a sua situação de estabilidade para aprender as normas e as regras” – frisou o Presidente da Comissão Episcopal.

Por sua vez, Dinis Abreu pede ao Governo que “não nos ostracize ainda mais”.

Depois de apresentar os problemas da etnia cigana, António Pinto Nunes, Presidente da Federação Calhim Portuguesa, alerta “os governantes para as manobras de aproximação que os ciganos estão a fazer no sentido da inclusão do nosso povo”. E avança: “nós queremos que nos conheçam melhor”.

Hoje, dia 8 de Abril, celebra-se o Dia Internacional dos Ciganos que foi oficializado em 1971, no Congresso Mundial de Ciganos em Londres, tendo sido aceite pela maioria das associações de comunidades ciganas, com vista à promoção da sua cultura.

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Agência ECCLESIA

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