Ciclone Idai: Um choro que nos faz acordar

Margarida Alvim

As inundações devastadoras em Moçambique vieram revelar de forma aguda a contemplação proposta pelo Papa Francisco para esta Quaresma: o choro e a impaciência da criação, aguardando a nossa participação.

Nos últimos dias chega-nos o desespero de Moçambique, Malawi e Zimbabwe com a devastação do ciclone Idai. Só em Moçambique o número de mortos supera os 400 e 350 mil pessoas estão em risco, devido aos efeitos das cheias nas bacias dos rios Buzi e Pungoe. O choro agudo de Moçambique, devastado pelas águas, faz-nos sentir o choro da Terra e da Humanidade, ao ponto de nos detonar por dentro rebentando os nossos diques, as nossas seguranças, os nossos hábitos, fazendo-nos desejar transpor este imenso oceano para estar lá, fazer alguma coisa. As inúmeras manifestações de solidariedade que chegam de todo o mundo revelam este nosso desejo.

De acordo com o Banco Mundial e as Nações Unidas, Moçambique é o terceiro país africano mais vulnerável a desastres relacionados com fenómenos meteorológicos extremos, um dos impactos das alterações climáticas. As condições no terreno, com grandes índices de pobreza e desordenamento territorial, acabam por agravar ainda mais esta realidade. Como é injusto que os que menos contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa, sejam quem mais sofre os impactos dos desequilíbrios ambientais a eles associados! Não dispõem de qualquer seguro, qualquer segurança… As suas vidas simples, despojadas, no limiar da pobreza, vão-nos desafiando à comunhão, ao despojamento, à conversão a um outro paradigma de sociedade, a outro estilo de vida.

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