Chipre: Papa lembra sofrimento dos cristãos

Bento XVI chama a atenção da Igreja e da comunidade internacional para as condições dos cristãos no Médio Oriente

O Papa entregou este Domingo aos patriarcas e bispos que concelebraram a missa em Nicósia, capital do Chipre, o documento de trabalho (“Instrumentum laboris”) do Sínodo do Bispos para o Médio Oriente, que se realiza em Outubro.

No dia em que Chipre, à semelhança de outros países, celebra a festa do Corpo de Deus – que em Portugal foi assinalada esta Quinta-feira – Bento XVI salientou que a Eucaristia está “no centro da unidade da Igreja”, pelo que “não é sem significado” a data escolhida para a entrega do texto.

Bento XVI realçou que “o Médio Oriente tem um lugar especial no coração de todos os cristãos” por ter sido nessa região “que Deus se fez conhecer aos nossos pais na fé”, desde o tempo em que “Abraão saiu de Ur dos Caldeus obedecendo ao chamamento do Senhor, até à morte e ressurreição de Jesus”.

A mensagem evangélica difundiu-se em todo o mundo, mas os cristãos, disse o Papa, “continuam a guardar o Médio Oriente com especial reverência, por causa dos profetas e dos patriarcas, dos apóstolos e dos mártires, aos quais devemos tanto, aos homens e às mulheres que escutaram a palavra de Deus, deram testemunho dela e no-la entregaram”.

Dada a importância da região para a história do cristianismo, o Sínodo dos Bispos vai procurar aprofundar a comunhão no interior das comunidades católicas locais, e entre estas e a Igreja universal.

A assembleia sinodal, convocada a pedido dos prelados do Médio Oriente, deseja também encorajar o testemunho da fé em Cristo das comunidades católicas, algumas delas atingidas por “grandes provações” devido à situação na região.

Neste sentido, o Sínodo “é uma ocasião para os cristãos do resto do mundo oferecerem sustentação espiritual e solidariedade pelos seus irmãos e irmãs do Médio Oriente”, afirmou o Papa.

O encontro, que vai decorrer em Roma, constitui também uma oportunidade para ressaltar a importância da “presença e do testemunho cristão nos países da Bíblia” nas sociedades onde a Igreja se insere e nos países da região.

Bento XVI mencionou alguns dos contributos que as comunidades católicas oferecem em favor do bem comum, como a educação, a cura dos doentes e a assistência social, apoios que “merecem reconhecimento pelo papel inestimável de que se revestem”.

O papel da Igreja na construção da concórdia foi também lembrado pelo Papa: “Desejais viver em paz e harmonia com os vossos vizinhos hebreus e muçulmanos” e “frequentemente agis como artesãos da paz no difícil processo de reconciliação”.

Depois de enumerar a cooperação que os católicos oferecem para o desenvolvimento e para a pacificação na região, Bento XVI disse ter “a firme esperança” que os direitos daquelas comunidades “sejam sempre mais respeitados, incluindo o direito à liberdade de culto e à liberdade religiosa”, e que elas não sofram “jamais” de discriminações de algum género.

O Papa diz rezar para que o Sínodo contribua para que a comunidade internacional volte a sua atenção para as condições dos cristãos no Médio Oriente “que sofrem por causa da sua fé, a fim de que se possam encontrar soluções justas e duradouras” para os conflitos “que causam tantos sofrimentos”.

A alocução de Bento XVI referiu-se ainda aos confrontos na região, especialmente entre Israel e as autoridades palestinianas: “Repito o meu apelo pessoal para um esforço internacional urgente e concertado, a fim de resolver as tensões que continuam no Médio Oriente, especialmente na Terra Santa, antes que esses conflitos conduzam a um maior derramamento de sangue”.

No início do seu discurso, o Papa evocou a memória de D. Luigi Padovese, presidente da Conferência Episcopal da Turquia, “que contribuiu para a preparação do ‘Instrumentum Laboris’”.

“A notícia da sua morte imprevista e trágica, ocorrida na Quinta-feira, surpreendeu e atingiu-nos a todos. Confio a sua alma à misericórdia de Deus omnipotente, recordando o quanto ele se emprenhou, especialmente como bispo, para a mútua compreensão no âmbito inter-religioso e cultural e para o diálogo entre as Igrejas”, recordou Bento XVI.

A morte do prelado, afirmou o Papa, lembra que todos os cristãos são chamados a ser, “em todas as circunstâncias, testemunhas corajosas de tudo o que é bom, nobre e justo”.

No fim do discurso, Bento XVI fez votos para que “Deus abençoe todos os povos do Médio Oriente”, tendo seguidamente entregue o “Instrumentum Laboris” aos prelados presentes na eucaristia.

Foto: Bento XVI e prelados do Médio Oriente durante a missa celebrada em Nicósia, Chipre (6.6.2010)

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