Centros Sociais – Instrumentos de Comunhão

Portugal assistiu nos últimos dias a um coro, oriundo de sectores variados, onde muitos pareciam exultar por aquilo que apelidavam de “recado” do Papa aos Bispos Portugueses. Não ouso afirmar que se tratava de algo orquestrado e manobrado. Vi, porém, um certo regozijo por parte de alguns intérpretes dum discurso que, assim o acredito, não foi lida na íntegra nem situado no seu contexto. Os Bispos de Portugal foram a Roma para ouvir a Palavra do Papa como algo norteador das opções pastorais. Aí experimentamos um carinho acolhedor deslumbrante, ouvimos a certeza da acção de “graças a Cristo Senhor pela grande misericórdia que Deus usou para com a Igreja peregrina em Portugal, através de numerosas iniciativas por vós tomadas nos anos imediatos”. E, como não podia deixar de ser, acolhemos uma interpelação que não encerra novidade mas convida a novidades. Gostaria de reler convosco este estímulo, situando-o no seu contexto: “A palavra de ordem era, e é, construir caminhos de comunhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja aos ritmo do Concílio Vaticano II…,” Daqui poderemos e deveremos extrair diversas orientações pastorais que confirmam as opções delineadas nos últimos anos e nos motivam para novas apostas. Temos uma “palavra de ordem” e, como tal, não podemos duvidar nem apegarmo-nos a outros critérios: trata-se de “construir caminhos de comunhão”. O Papa sublinha que “era e é”. Com isto está a reconhecer que há um projecto realizado mas, ainda, inacabado, ou seja, com valor e com permanente actualidade. No nosso caso concreto, o Sínodo Diocesano, realizado entre 1994-1997, falou-nos da Paróquia em renovação e, para isso, da comunhão e responsabilidade. Comprometemo-nos em dar vida aos Conselhos Económicos (Arquidiocesano e Paroquiais) e aos Conselhos Pastorais (também Arquidiocesano e Paroquiais). Gostaria de saber se existem em todas as comunidades e como funcionam. Da sua operacionalidade e funcionalidade, como “formas de integração na comunidade”, só cada um poderá aquilatar. Por tudo quanto afirmei, devo reconhecer que se trata dum “recado” do papa para algumas comunidades que ainda não decidiram assumir este “estilo de organização”. Seria, porém, injusto se não reconhecesse muito caminho andado. Daí que a mudança de mentalidade continuará a questionar sacerdotes e leigos. Uma coisa é certa: a minha alegria não está nas possíveis atitudes clericais nem no excesso de zelo de alguns leigos que autoritariamente pretendem ocupar lugares, impedindo uma corresponsabilidade comunitária. “O estilo de organização da comunidade eclesial” não é o clericalismo – aplicado a sacerdotes e leigos – mas uma comunhão orgânica, expressão dum povo de Deus que caminha na repartição de tarefas, na confiança mútua e no respeito pelo ordenamento canónico. A necessidade de “construir caminhos de comunhão” impele-nos para um conhecimento da realidade que permita a denúncia das injustiças e uma intervenção de resposta a problemas sociais. Aqui situo a importância dos Centros Sociais Paroquiais. Quando servem, como testemunho de caridade cristã, para um amor universal que privilegia os mais pobres, através duma autêntica corresponsabilidade onde os leigos exercitam um voluntariado competente, livre e responsável, estamos dentro da missão da Igreja. Quando aparecem ou se pretende que apareçam como espaços de poder de alguns ou ingerência política, para que as respostas sociais estejam ou pareçam estar dadas, pode acontecer que urja repensar a sua existência ou funcionamento. Valem se são expressão de uma caridade e permitem que o Amor seja testemunhado como linguagem que mostra Deus. Fomos pioneiros no passado e hoje continuamos ou deve continuar a ser peritos em humanidade. O Santo Padre, na senda do concílio, ao apontar a “rota certa a seguir”, ou seja, uma eclesiologia de comunhão, como atenção aos mais necessitados e estilo de funcionamento, na gestão e na qualidade dos serviços, situa-os na missão da Igreja e recorda que como tal não devem “falar deles ou das pessoas” mas de Deus. (Esta certeza está a exigir muita revisão e mudança de critérios). São parte integrante da comunidade paroquial, participam no Conselho Pastoral para integrar a sua missão na tarefa evangelizadora e mostram um voluntariado dinâmico, desinteressado e sem ambições pessoais de qualquer ordem. Os trabalhos deste Conselho Presbiteral devem integrar-se neste desejo de continuar a percorrer caminhos de comunhão na estrutura, no funcionamento e na qualidade dos serviços dos Centros Sociais Paroquiais. Não devemos temer a correcção de comportamentos nem hesitar em apontar orientações para o futuro. Que a colaboração de todos, no diálogo, produza frutos para as comunidades eclesiais. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga

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