No dia 10 de Maio de 1906 nasceu D. António Ferreira Gomes, “Homem livre” que sempre aspirou “a oferecer esta liberdade a uma causa que superasse a minha vida…”. “Fixei demoradamente o meu olhar sobre o rosto de D. António imobilizado pela morte. Era um rosto emagrecido, mas belo e sereno. Creio que era este o rosto do seu mundo interior. Mesmo, nas horas mais difíceis, nunca perdeu a serenidade, mesmo quando as suas palavras tinham o sabor de uma violência. A violência de D. António era a violência dos pacíficos. E uma tal violência é o apanágio dos homens interiormente livres”. Foi deste modo que D. Manuel de Almeida Trindade, bispo resignatário de Aveiro, descreveu a última imagem de D. António Ferreira Gomes, o célebre «bispo do Porto», que completaria um século de vida no próximo dia 10 de Maio. Este cidadão, natural de Milhundos (Penafiel), nascido no seio duma família de Entre Douro e Minho foi “nesta terra dos homens, um grande português, um grande cristão e um grande bispo da Igreja no Porto. Ficará na memória das gerações, como grande referência e apelo para a coragem, na liberdade e na justiça” – sublinhou D. Júlio Tavares Rebimbas na Homilia das Exéquias de D. António Ferreira Gomes, no dia 15 de Abril de 1989. A morte não é um simples diagnóstico biológico, nem o oposto da vida, porque está incluída em todo o nascimento. É tão decisiva que não se pode entender uma interpretação do homem que não inclua o problema da morte. Para o cristão, esta é a passagem do provisório ao definitivo. D. António Ferreira Gomes abandonou a vida terrena mas deixou às gerações vindouras o seu testemunho que “jamais se apagará do imaginário desta imensa comunidade de homens e mulheres que dão rosto à Nação Portuguesa”. (Teixeira, Manuel Pinto; in: Editorial de «O Comercio do Porto» de 14 de Abril de 1989). Em Portalegre tentou implementar a Reforma Agrária Recebeu a ordenação sacerdotal a 22 de Setembro de 1928 e passados vinte anos (15 de Janeiro de 1948) é eleito bispo coadjutor da diocese de Portalegre – Castelo Branco onde se manteve até 1952. O ano da ida para a diocese alentejana, raiana e beirã, está intimamente ligado ao seu múnus pastoral: Ano da Proclamação da Declaração Universal dos Direitos do homem – “dos quais foi insistente defensor” – e no dia da ordenação episcopal (2 de Maio de 1948) celebra-se Santo Atanásio de Alexandria. “Coincidência imprevisível de exilados”. (cf. Azevedo, Carlos Moreira; In: “António Ferreira Gomes (1906-1989) – Bispo ao Serviço da Liberdade” – Fotobiografia e Testemunhos). Durante o período passado em Portalegre, D. António Ferreira Gomes revela uma posição “doutrinal discreta mas abundante e indiscutivelmente promissora da inovação que só mais tarde se lhe conheceu” (In: “D. António Ferreira Gomes – Cerimónias evocativas da sua memória”). Numa entrevista concedida ao Jornal «O Comércio do Porto», de 2 de Junho de 1986, o prelado realça que, em grande parte, quem “faz o bispo é a sua própria diocese. Eu fui para Portalegre e, com surpresa minha, encontrei-me a falar de democracia e coisas parecidas”. Em Castelo Branco, na Festa de Jesus Operário, “sem o ter pensado, sem o ter projectado, encontrei-me a dizer: em democracia, o número é a força e vós sois o número; portanto, em democracia, sois a força. Pensai bem nas responsabilidades que isto acarreta”. (In: «D. António Ferreira Gomes – Antologia do seu pensamento»; I Volume). O interesse pelo mundo rural Nestes quatro anos, D. António Ferreira Gomes deixou marcas e a sua marca naquele território eclesial. Depressa se deu conta da grande chaga que grassava aquela Igreja particular. Aqueles latifúndios geravam um vastíssimo proletariado campesino “condenado à precária existência da mão-de-obra sazonal” (Cf. Gomes, António Ferreira; In: Revista «Lumen» n.º 16 de 1952.) O mundo rural “sempre me interessou muito” e “devo dizer que, muito antes do 25 de Abril, já eu falava da reforma agrária”. E acrescenta: “Em Portalegre, eu convocava um certo número de proprietários e tínhamos uma conversa sobre a situação criada à Igreja pela propriedade no Alentejo” (In: Gomes, Ant. Ferreira; na entrevista ao Jornal «O Comércio do Porto»). Urgia um eficaz programa de recuperação e revitalização de todos os valores humanos que D. António Ferreira Gomes caracterizava de “valorização do escol e desproletarização de massas”. (Cf. Revista «Lumen» n.º 16 de 1952). Ao procurar dar cumprimento a tal programa reconhecido como prioritário numa obra de evangelização, o prelado entregou-se à tarefa de organizar a Associação Social Agrária (ASA) que reunisse os grandes proprietários diocesanos e cujas finalidades estatutárias se resumiam “ao estudo da Doutrina Social da Igreja, as possibilidades da sua aplicação à situação portalegrense e elaboração de um projecto de reforma agrária a propôr às entidades competentes” (Cf. Revista «Lumen» n.º 16 de 1952.). A personalidade firme do bispo e, por outro lado, o carácter de Salazar e a sua ideologia no que respeitava às relações Igreja-Sociedade a vigorar no regime, “com a agravante de estar em curso a organização do corporativismo autoritário do Estado Novo, afigura-se altamente provável ter vindo a eclodir um «caso do Bispo de Portalegre» antes do «caso do Bispo do Porto» sucedido mais tarde se, entretanto, D. António Ferreira Gomes não tivesse sido nomeado para presidir à Sé Portucalense” (Ferreira, Manuel Pinho; «A Igreja e o Estado Novo na Obra de D. António Ferreira Gomes; In. Revista «Estudos Teológicos» de Julho/Dezembro de 2004). Na entrevista concedida ao referido jornal, D. António Ferreira Gomes aponta as razões para o insucesso do projecto. “Quem demoliu o projecto não foram os alentejanos, foram os deputados em geral. Por isso, eu creio que a reforma se poderia ter feito duma maneira autorizada, uma maneira forte; exactamente o que eles tinham dito antes: um governo forte podia ter feito a reforma agrária sem violências”. No artigo (não assinado) «Depois do aguaceiro» – publicado no jornal «O Distrito de Portalegre», de 19 de Fevereiro de 1949 – o prelado aponta duas deficiências da «situação» que deverão “ser encaradas a sério e com toda a objectividade: a educação da juventude e a situação dos trabalhadores rurais que, particularmente neste Alentejo, assume aspectos graves”. Lançou sementes para além dos latifúndios As «sementes» lançadas nas terras de Portalegre e Castelo Branco não se destinavam apenas aos latifúndios. Nesta diocese pensa também na fundação de um Seminário Maior e cria a Obra das Vocações Eclesiásticas e Seminários (O.V.E.S), “com capilaridade paroquial, fundamental para aumentar o número dos candidatos ao ministério presbiteral. Outra forma foi o apostolado das classes dirigentes. A elevada cultura do bispo permitia marcar a transformação das mentalidades” (cf. Azevedo, Carlos Moreira; In: “António Ferreira Gomes (1906-1989) – Bispo ao Serviço da Liberdade” – Fotobiografia e Testemunhos). No primeiro ano do seu múnus episcopal organiza também um Curso Superior de Cultural Católica, a funcionar até 1951, e aproveitou o Congresso do Sagrado Coração de Jesus, realizado em Outubro de 1949 na localidade e Castelo de Vide, para a animação do Alto Alentejo, “renovando paróquias decaídas desde a Implantação da República” (Cf. Azevedo, Carlos Moreira). O número especial do «O Distrito de Portalegre», de 4 de Outubro de 1952 (8 dias antes de tomar posse na diocese do Porto) relata, através de numerosos colaboradores, o impacto da sua acção pastoral nos quatro anos que esteve naquela diocese. No Porto com a audácia dos grandes lutadores O jornal «Novidades», de 13 de Julho de 1952, noticiava que o bispo de Portalegre tinha sido nomeado para a diocese do Porto no dia anterior. Na sua apresentação aquele órgão de comunicação salientava que D. António Ferreira Gomes era “um bispo moderno, no mais puro sentido da palavra, que soube ter, por vezes, a audácia dos grandes lutadores, defendendo, por todos os meios, os tesouros do património cristão, o direito e a honra do rebanho ao seus cuidados confiado”. A nomeação para bispo do Porto “foi bastante pressionada por Salazar que se sentia incomodado pelas suas reacções de inconformismo face à «situação», no intuito que a dimensão da diocese e as preocupações pastorais o absorvessem, impedindo-o de se tornar um opositor ao regime, o que acabaria por não acontecer” (In: Revista «Atrium», números 25/26 de 1999). Na primeira saudação à diocese (12 de Outubro) deixou logo indícios que seria um defensor e promotor acérrimo dos direitos da pessoa humana: “nós, pessoalmente, esperamos recolher a herança dos Maiores e não deixar perder dela, ao menos por cobardia ou comodismo, alguma migalha, quaisquer que possam ser as consequências. Assim Deus nos ajude” (In: Revista «Lumen» n.º 17 de 1953). De 1952 a 1958, o bispo do Porto notabilizou-se pela atenção à miséria social do povo português. Denunciando, principalmente, o carácter fascista e ditatorial do regime salazarista; a dimensão reduzida dos cidadãos; a ausência de liberdade e o pluralismo partidário; o corporativismo e o não respeito pelos direitos do homem. “A própria e superior missão da sociedade cristã é realizar verdadeiramente a sociedade melhor, sem prejuízo mas antes com a promoção da pessoa humana. Uma com a outra: auxiliam-se e completam-se. Foi o homem cristão que fez a exigência duma sociedade cristã, isto é da verdadeira sociedade, assente sobre a igualdade essencial dos homens, sem distinção de raças, nações, bens de fortuna ou condição de nascimento” (Gomes, António Ferreira; In: «Endireitai as Veredas do Senhor»). Não calar certas coisas O seu olhar não se fixava somente no burgo lusitano e a 25 de Janeiro de 1954 incentivou a organização de uma marcha de silêncio em protesto contra as perseguições aos cristãos da Europa de Leste e da China. Num discurso feito aos jornalistas em 1957, disse-lhes que “em matéria de doutrina, a questão, para a Igreja, já não é tanto se tem ou não o direito de falar, mas sim se tem já ou não o direito de calar”. Ele não se calou e denunciou o que o seu «sentido cristão» não concordava. “Considerei que era obrigação dum bispo não calar certas coisas” (In: Entrevista ao «Comércio do Porto»). No discurso de encerramento da 1.ª Semana de Estudos Rurais (Fátima, 26 de Março de 1957), intitulado “A miséria imerecida do nosso Mundo Rural”, D. António Ferreira Gomes não cala a sua indignação. “O agricultor, que dantes era enfiteuta e tinha um vago senhorio a quem devia foros, depois de ser lavrador por uns tempos, vai passando à humilhante situação de caseiro de um patrão a quem paga rendas, e que, alheio aos seus problemas e anseios, o trata brutalmente como a um operário ou máquina da sua fábrica”. Do «pro-memória» ao exílio A 13 de Julho de 1958, D. António Ferreira Gomes escreve um «pro memória» a Salazar. Neste documento, o prelado elencava os assuntos que queria abordar com o Presidente do Conselho. “Os problemas que eu sinto da minha responsabilidade para com os fiéis… E foi essa a razão de eu escrever aquele «pro-memória» que lhe mandei, e que mandei só a ele com o objectivo de nos entendermos sobre o que seria a nossa conversa” – (Entrevista ao Jornal «Comércio do Porto). No mês seguinte a carta começou a circular devido a “inconfidências de um amigo de D. António e de um ministro de Salazar” (Azevedo, Carlos Moreira). Esta é a razão de ser do que chamam «carta aberta» e que, na verdade, era um memorandum para uma entrevista que estava marcada e que depois “praticamente foi anulada” (In: «Comércio do Porto») A deslealdade foi uma das causas do seu exílio, para onde partiu a 24 de Julho de 1959. Este prolongou-se até 19 de Junho de 1969. Após uma breve estadia na Galiza, onde foi acolhido pelo bispo de Santiago de Compostela, passou a residir em Valência, por ser mais longe da fronteira portuguesa. Aí trabalhou com o bispo D. Marcelino Olaechea. Naquela cidade espanhola esteve até 1963, data de encerramento da segunda sessão do II Concílio Vaticano. Neste grande acontecimento eclesial, o bispo exilado participou activamente e as actas publicadas testemunham as suas intervenções, sobretudo em matéria de liberdade religiosa e função dos bispos. Terminado o Concílio, D. António fixou residência em Lourdes (França); Cidade Rodrigo e Alba Tormes. Nestes locais de desterro recebe frequentes visitas de amigos e apoio da diocese do Porto, que “soube ser fiel e digna do seu bispo”, (Azevedo, Carlos Moreira) e aproveita o tempo para saborear a solidão e construir no silêncio. A obra “Igreja na vida pública: catolicismo português e historicidade” resulta deste período. Depois da subida de Marcelo Caetano ao poder, um grupo de leigos e sacerdotes das terras do Douro movimenta-se para que D. António Ferreira Gomes regresse ao Porto. A paz é possível Em 1967, por voto expresso no II Concílio Vaticano, o Papa Paulo VI instituiu o Dia Mundial da Paz, a ser celebrado todos os anos, a 1 de Janeiro. Na altura deste anúncio, D. António Ferreira Gomes encontrava-se no exílio (só entrou na diocese a 5 de Julho de 1969). A primeira celebração deste dia fez-se em 1968 mas a primeira «homilia da paz» proferida pelo prelado foi em 1970. O que ele fez ininterruptamente até 1982, data da sua resignação, a 2 de Maio. Falar de paz naquele tempo era inevitavelmente confrontar-se com as razões ou sem razões de “uma guerra colonial, ideologicamente mantida sob a invocação da fé, do império (ou memória dos antepassados) e dos valores da civilização ocidental, guerra essa que mutilava ou conduzia ao cemitério uma parte da nossa juventude, que consumia as riquezas da nação, que atirava brancos contra negros e negros contra brancos, num racismo até essa altura desconhecido, que isolava cada vez mais Portugal do concerto das nações, enfim, que concedia ao povo português o triste palmarés de derradeiro representante da mentalidade arcaica do colonialismo” (Linda, Manuel; “D. António Ferreira Gomes e a discussão sobre a guerra colonial”; In: Revista «Atrium», Tomo XXIV, Fasc. I de 2003). Para D. António Ferreira Gomes a paz é possível. “É um possível! Com afirmar isto não se diz se ela existe ou não existe, se é real ou não; mas já se diz muito, nega-se que a paz seja impossível, que ela seja um impossível” (….) Se não estamos diante de um impossível, então estaremos certamente diante, próxima remotamente, conscientemente ou não, dum mal desnecessário; duma imoralidade, dum pecado individual ou colectivo, finalmente do «pecado do mundo»” (Gomes, António Ferreira Gomes; “Paz da vitória ou Paz da Justiça” – Homilia de 1 de Janeiro de 1973; In: «Homilias da Paz (1970-1982)»). Eliminar este «pecado do mundo» Evidentemente, o caminho será longo, há enormes dificuldades a vencer, para dar a segurança do direito e da liberdade a todos, homens e povos. Mas, o mais importante, “é crer que isso é possível e fazer todo o possível por que se comece a realizar. No meio da noite, é cantando o sol e o dia que se faz aurora” – sublinha na «Homília da paz» de 1970 e intitulada “A Paz é obra e fruto da justiça e da verdade”. Esta aurora aparecerá se os homens conseguirem eliminar as causas que provocam este «pecado do mundo»: “a ambição, a vanglória, os interesses, os ressentimentos, as fobias, o medo, o fanatismo, o maniqueísmo, etc, etc” – aponta na homilia “Aceitar o preço da paz” pronunciada a 1 de Janeiro de 1971. E acrescenta: “a última e universal razão é a falta de amor à verdade ou a falta de coragem da verdade e das suas consequências”. As suas reflexões sobre a paz vão crescendo de dramatismo de ano para ano, até desembocarem num clímax que é a homilia de 1974, a pouco mais de quatro meses da «Revolução de Abril». Ao dirigir-se aos cristãos da diocese do Porto – o pastor portucalense gostava de dizer que a missão do bispo é falar aos de dentro da sua Igreja e que, no mais, quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça – confronta-os com uma questão provocatória: “Somos cristãos, nós, os portugueses?” (Gomes, António Ferreira, “A Paz depende de ti” – Homilia de 1 de Janeiro de 1974; In: «Homilias da Paz (1970-1982)»). A pergunta é tudo menos retórica. E a resposta não se pode obter por palavras, mas somente pela observação das atitudes. Ora, ao invocar a defesa da fé para justificar as guerras coloniais, em boa verdade “os portugueses mais não faziam que paganizar a sua crença” (Linda, Manuel; “D. António Ferreira Gomes e a discussão sobre a guerra colonial”). D. António Ferreira Gomes faz mesmo um elenco de interpelações sobre a problemática da Paz: “A Paz – e portanto a guerra – depende de ti, cristão, se instrumentalizas o Evangelho, se mediatizas o Reino de Deus aos reinados dos Césares, se condicionas o Verbo de Deus à razão ou razões humanas, se pões a Fé ao serviço dos interesses, individuais ou colectivos, se fazes da Moral cristã universal uma moral limitada pelas fronteiras da nação, ou do estado ou da classe, se voltas ao deus da tribo ou do império, em suma e para hoje, se fazes do Evangelho instrumento ao serviço quer da revolução social quer da conservação social”. Depois do 25 de Abril um apelo à reconciliação Nestas «educações» sobre a paz, D. António Ferreira Gomes revelava o seu contra a guerra colonial. Fê-lo, porém, de uma forma “absolutamente original e única: orientando o ethos nacional por um novo rumo que passava por tarefas bem mais nobres e gratificantes do que a opressão alheia” (Linda, Manuel; “D. António Ferreira Gomes e a discussão sobre a guerra colonial”). Chegado o momento da liberdade, o bispo faz um repto aos portugueses: “grande e solene apelo à reconciliação entre todos” para que possam “assegurar as condições da paz em Portugal” (Gomes, António Ferreira, “Paz em Portugal pela Reconciliação entre os portugueses” – Homilia de 1 de Janeiro de 1975; In: «Homilias da Paz (1970-1982)»). Quatro meses depois – na homilia do Domingo de Páscoa de 1975 (5 de Abril) – o bispo do Porto, ao falar do «amor social», aponta mais condições para que a sociedade seja mais humana e fraterna: “liberdade, justiça, igualdade de oportunidades, amizade cívica, generosidade e espírito de serviço” (Cf. “Os bispos e a Revolução de Abril”; In: Dicionário Político). Aproxima-se o fim Antes de completar os 75 anos, escreve ao Papa (12/3/81) a pedir a dispensa da jurisdição e responsabilidade sobre a diocese do Porto. Passados trinta e quatro anos (2 de Maio de 1982) despede-se do seu rebanho e vai viver numa casa de campo perto da cidade do Porto (Quinta da Mão Poderosa). Aí escreve as «Cartas ao Papa» – “fino repositório de ideias e súmula do seu pensamento” (In: “D. António Ferreira Gomes – Cerimónias evocativas da sua memória”). O Pe. Manuel Mota que o acompanhou nos últimos dias da sua vida terrena testemunhou ao jornal «Voz Portucalense» que, na última noite, o prelado conversou até às 23 horas e manifestou o seu regozijo pela conclusão da Igreja de Aldoar, “cujas obras suspensas tanto o tinham inquietado”. “Cerca das duas e trinta da madrugada levantou-se com a minha ajuda, mas logo a seguir perdeu todas as forças. Disse-me sentir que o fim se aproximava”. Terminou a grande luta pelas 4,30 horas mas deixou obra e seguidores. É nesta casa que morre a 13 de Abril de 1989. No seu testamento pode ler-se esta frase, resumo de toda uma vida: “Homem livre, sempre aspirei a oferecer esta liberdade a uma causa que superasse a minha vida…” Luís Filipe Santos