Centenário da República: tempos difíceis para a Arquidiocese de Évora

Cón. Francisco Senra Coelho recorda acção de D. Augusto Eduardo Nunes

A implantação da República, em 1910, deu início a um tempo de grandes dificuldades para a Igreja Católica no Alentejo, na qual se destacou D. Augusto Eduardo Nunes, Arcebispo de Évora.

O Cón. Francisco Senra Coelho, professor de História de Igreja no Instituto Superior de Teologia de Évora, refere em entrevista à Agência ECCLESIA que “em 1910 existiam 111 padres na diocese e dez anos depois só existiam cerca de 30. A vivência destes dez anos foi muito específica. De 1910-12, a pastoral diocesana sofreu imenso. Os sacerdotes deixaram de receber do Estado e passaram a viver da caridade pública”.

O Pe. Senra Coelho é autor de uma Tese de Doutoramento intitulada “Monseigneur Augusto Eduardo Nunes, Archbishop of Évora (1850-1920): From the University of Coimbra to Archbishop of Évora in the Contexto f the First Republica”, na Phoenix International University, com o reconhecimento do British Council.

Este especialista recorda que entre 1912-14, D. Augusto Eduardo Nunes foi desterrado para Elvas. Desta localidade fazia o governo – através de correspondência – de Évora e de Beja.

“Quando voltou a Évora, em 1914, começa a odisseia para reabrir o Seminário. Em 1917, na defesa feita a D. António Barroso e ao Cardeal Patriarca Mendes Belo, D. Augusto Eduardo Nunes sofre a segunda expulsão”, recorda.

O Arcebispo é expulso, conjuntamente com D. Manuel Vieira de Matos (arcebispo de Braga).

D. Augusto Eduardo Nunes alentejano é apresentado como “uma figura humana muito interessante e com uma personalidade muito vincada”.

“Faz uma leitura conservadora de uma sociedade estratificada, mas propõe coisas interessantes: a constituição de sindicatos para defender o interesse dos operários e propõe a vinculação da Igreja aos interesses dos operários, através dos Círculos Operários Católicos”, indica o Cón. Senra Coelho.

Segundo o historiador, o Bispo alentejano “compreende duas coisas que não eram comuns no clero português. Havia «coisas novas» e que a Igreja tinha de estar atenta a algo que estava a acontecer”.

“No contexto liberal, onde a Igreja era atirada apenas para funções religiosas/litúrgicas – um pássaro em jaula de ouro -, ele afirma que a Igreja tem direito a pronunciar-se sobre as questões sociais”, prossegue.

Depois da proclamação da chamada «Lei das Cultuais» (Os bens da Igreja deviam ser administrados e conduzidos por grupos de leigos), e fez, como todos os bispos, a denúncia dessa lei.

Acontece que, pelo facto de terem denunciado essa lei, os bispos foram desterrados das suas dioceses, menos ele (foi desterrado apenas a 8 de Abril de 1912).

Vivia, por isso, uma amargura imensa e curiosa: “Devem pensar que sou um traidor e que faço uma posição dupla perante os meus colegas”.

O professor de História indica que o Arcebispo de Évora veio negociar, privadamente e confidencialmente, posições com Afonso Costa.

“Era a pessoa da hierarquia da Igreja mais próxima dos governantes republicanos”, assinala o Cón. Senra Coelho.

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Agência ECCLESIA

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