Celebração dos 500 Anos dos Museus do Vaticano

O espólio dos museus do Vaticano é um dos mais interessantes e ricos do mundo, abrangendo obras de arte que representam não só a arte grega e romana do período clássico, como a das sociedades primitivas, e contam toda a história da cultura europeia até à actualidade. Estas obras de arte foram acumuladas através de ofertas e aquisições dos Papas que sempre foram grandes patronos de arte. No tempo do Papa Júlio II (1503-1513), o pontífice mecenas que encomendou a pintura do tecto da capela sistina ao escultor, pintor e arquitecto Miguel Ângelo, foi descoberta no local denominado Colle Oppio em Roma a conhecida escultura Laocoonte, peça do período helenístico (período de transição entre a Grécia Clássica e o inicio do Império Romano). A aquisição deste conjunto escultórico, colocado no pátio de Belvedere no Vaticano em 1506, assinala o início da colecção de antiguidades clássicas dos Papas e a fundação os museus do Vaticano, que este ano celebram os seus 500 anos. O espólio dos museus do Vaticano é um dos mais interessantes e ricos do mundo, abrangendo obras de arte que representam não só a arte grega e romana do período clássico, como a das sociedades primitivas, e contam toda a história da cultura europeia até à actualidade. Estas obras de arte foram acumuladas através de ofertas e aquisições dos Papas que sempre foram grandes patronos de arte. Em 1983, foram criadas as associações de patronos das artes dos Museus do Vaticano, inicialmente com capítulos na América e no Canadá e mais recentemente em Inglaterra, na Irlanda e na Escócia. Foi igualmente criado um capítulo para os países de língua portuguesa, que engloba Portugal Continental, Madeira, Açores, Brasil e restantes países de língua oficial portuguesa, que estiveram sob a influência cultural de Portugal e faziam parte do seu império ultramarino. Estes patronos dos Museus do Vaticano têm vindo a financiar o restauro de quantidade apreciável de obras de arte, sendo os diversos capítulos coordenados pelo Reverendo Padre Prof. Doutor Allen Duston, com o apoio directo de Sua Eminência o Cardeal Szoka, Presidente do Governo do Vaticano, e sujeitos a decisão directa de Sua Santidade o Papa. Desta forma as necessidades de restauro são definidas pelo Vaticano, que consulta os técnicos da especialidade e em diálogo com os diversos capítulos de patronos do mundo inteiro escolhe os projectos de restauro a financiar com fundos recolhidos por doações individuais, de empresas ou de instituições. Deste modo, os restauros realizam-se a bom ritmo sem complicações burocráticas, nem interferência de comissões diversas, confiando aos técnicos e à tecnologia actual a execução dos trabalhos após decisão directa do Papa. Não deixam de ser trabalhos que levam o seu tempo a executar: a título de exemplo, lembramos que o restauro das pinturas do tecto da capela sistina demorou mais tempo do que a sua criação por Miguel Ângelo! A intervenção dos patronos de arte destina-se prioritariamente a apoiar o restauro do espólio e dos edifícios dos museus do Vaticano, mas também pode visar apoiar projectos nos países dos próprios capítulos. O capítulo dos países de língua portuguesa dos patronos dos Museus do Vaticano tem o alto patrocínio de S.A.R. o Senhor Dom Duarte de Bragança. Representando Portugal No final do mês de Maio, fui convidado para representar Portugal na abertura das celebrações dos 500 anos dos Museus do Vaticano, já que estavam representados todos os capítulos dos patronos e que o capítulo português foi o último a ser instituído. Portugal tem uma longa história de relações diplomáticas com o Vaticano e vale a pena recordar duas grandes embaixadas enviadas à Cidade Eterna, a primeira por D. Manuel I e a segunda por D. João V. A embaixada de D. Manuel I foi a que maior repercussão teve em toda a Europa, uma vez que com a descoberta do caminho marítimo para a Índia e o início do comércio com o Oriente, o Rei pôde oferecer ao Sumo Pontífice riquíssimas e exóticas prendas provenientes de terras ignotas, entre as quais um rinoceronte que se afogou no transbordo e um elefante que viveu nos jardins do Vaticano e entrou em Roma acompanhado de fogo de artificio, para espanto e gáudio da população que mal podia acreditar que existisse animal tão extraordinário. Com o elefante seguiram também ofertas de especiarias e ainda de açúcar proveniente da ilha da Madeira, ao tempo o maior produtor mundial desta iguaria saborosa e essencial para a conservação de muitos alimentos. O Papa apreciou tanto a oferta do Rei de Portugal, que quando o elefante morreu mandou que fosse enterrado nos jardins do Vaticano, junto às enfermarias, e representado na fachada da igreja de São Pedro, num fresco executado por Rafael. Esta pintura acabou por desaparecer por estar no exterior e sujeita às intempéries, mas foi reproduzida em diversas obras e está na origem de uma oferta que os patronos da Região Autónoma Madeira pretendem fazer ao Papa: um grande painel de azulejos representando a embaixada com o elefante e as caixas de açúcar, para ser colocado no local onde há séculos foi sepultado o “animal de estimação” do Papa Júlio II. Esta oferta será financiada por patronos privados e algumas entidades oficiais e será a primeira iniciativa da Delegação da Madeira do Patronato de Língua Portuguesa dos Museus do Vaticano. As celebrações dos 500 anos dos Museus do Vaticano decorreram com excelente organização e permitiram ao grupo de mais de 400 patronos realizar uma peregrinação a Roma para pedir a bênção do Papa Bento XVI e visitar e conhecer as zonas reservadas dos museus, que abrangem uma área de 40.000m2, e ainda para acompanhar os restauros das peças de arte e das zonas do palácio papal que estão a ser recuperadas com a sua ajuda. Os patronos de arte tiveram o privilégio de assistir à Santa Missa na capela Sixtina e na igreja de São Pedro, guiados pelo Director dos Museus do Vaticano e outros especialistas em arte sacra, que aprofundaram e explicaram os fundamentos e a evolução histórica e religiosa destes monumentos que são património de toda a humanidade. Para além de outros eventos de carácter mais social, a audiência privada com o Santo Padre na sala Clementina (construída por Clemente VIII) conferiu profundo significado espiritual à visita dos museus, tendo Bento XVI agradecido a generosidade dos patronos e enaltecido o sentido evangelizador desta cruzada a favor da cultura e da arte: “em todas as épocas os Cristãos preocuparam-se em dar expressão à visão da fé da beleza e da ordem da Criação Divina”, e ainda: “os tesouros artísticos que nos rodeiam não são somente impressionantes monumentos de um passado distante, antes para as centenas de milhares de visitantes que os contemplam ano após ano, constituem testemunhos perenes da Fé imutável da Igreja no Deus Uno e Trino que, tal como na frase memorável de Santo Agostinho é Ele mesmo “Beleza sempre antiga e sempre nova”. E concluiu, fazendo votos para que o apoio dos patronos aos museus do Vaticano “traga abundantes frutos espirituais para as vossas vidas e progresso na missão da Igreja de trazer todas as pessoas ao conhecimento e ao amor de Jesus Cristo, a imagem de Deus invisível em Cujo Espírito Eterno toda a criação é reconciliada, restaurada e renovada”. João Cunha Paredes, Arquitecto

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