Catequese, um caminho para a Vida

Homilia de D. Manuel Pelino, Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, no encerramento da Semana Nacional da Educação Cristã 1-Catequese para diferentes itinerários dos fiéis. Concluímos neste domingo a Semana Nacional de Educação Cristã que pretende chamar a atenção das comunidades para a importância da catequese e para a necessidade de arrancar com esta actividade em inícios de Outubro. Nos últimos decénios, a importância da catequese tem vindo a crescer na vida das comunidades cristãs. Precisa de muitos recursos de pessoas e meios, exige muita dedicação, absorve muitas energias e esforços dos pastores e principais colaboradores mas funciona com um itinerário de dez anos na generalidade das paróquias. Deste modo, a catequese paroquial constitui um dos indicadores mais fiéis da vitalidade das nossas comunidades. Apesar das muitas dificuldades e limitações, encontramos muitos párocos que não se poupam a esforços para pôr a catequese a funcionar com os escassos meios de que dispõem; milhares de catequistas que se entregam generosa, gratuita e dedicadamente a este serviço eclesial; inúmeras famílias, mesmo não praticantes, que se interessam que os filhos participem na catequese. Assim, na celebração desta Semana, é justa uma palavra de apreço, de reconhecimento e de estímulo a todos os obreiros do Evangelho que se dedicam à catequese, por vezes no meio de dificuldades e incompreensões. O Senhor lhes conceda a alegria de servir o Seu reino e faça frutificar o seu labor apostólico. No entanto, a catequese precisa de continuar o seu desenvolvimento e renovação. A situação cultural e religiosa da Europa reclama uma maior atenção e dedicação a esta actividade fundamental da Igreja. De facto, como recomenda a Exortação Apostólica sobre a Igreja na Europa (“ Ecclesia in Europa”), o crescimento do agnosticismo e da indiferença reclama a passagem de uma fé apoiada na tradição a uma fé mais pessoal, adulta, esclarecida e convicta. Este nível de vida cristã só se alcança através da catequese dirigida não só às crianças e adolescentes mas igualmente aos jovens e adultos. Como pede a referida Exortação Apostólica: “É preciso que as comunidades cristãs procurem propor uma catequese adaptada aos diferentes itinerários espirituais dos fiéis.” (E in E 51). Deste modo, é pedido às nossas comunidades, aos seus pastores e principais colaboradores, um esforço acrescido mas necessário para construir uma Igreja viva e adulta: Apresentar propostas de catequese quer tenham em conta situações diferentes de adultos e de jovens, bem como de formação permanente do Povo de Deus. Na verdade, os frutos da catequese de infância dependem também da qualidade do testemunho dos adultos. E a qualidade do testemunho alcança-se com a formação cristã mais sólida. Compreendemos, assim, que a Semana Nacional de Educação Cristã tenha em vista não apenas a catequese paroquial para a infância e a adolescência, mas alerte, igualmente, para outras formas de educação cristã dirigida a todas as idades, para a Educação Moral e Religiosa Católica na Escola, onde se faça a síntese entre a fé e a cultura e para a necessidade de variados espaços e meios de formação cristã. Como pede também a referida Exortação Apostólica: “Os cristãos são chamados a alcançar uma fé mais pessoal, adulta, esclarecida e convicta, para que possam confrontar-se criticamente com a cultura actual resistindo às suas seduções; influir eficazmente nos sectores culturais, económicos, sociais e políticos; (…) transmitir com alegria a fé às novas gerações; construir uma cultura cristã que possa evangelizar uma cultura mais ampla em que vivemos” ( E in E 50). 2-O itinerário laborioso da fé. As leituras deste domingo ajudam-nos a descobrir a riqueza do dom da fé e o itinerário que devemos percorrer para a alcançar. A fé dignifica, supera as alienações, educa para uma existência plena na verdade e no amor. Como crescer na fé? Como educar na fé as novas gerações? Vamos colher algumas inspirações nas leituras bíblicas deste domingo. A primeira leitura do livro dos Reis narra-nos o percurso de fé de Naamã, um prestigiado chefe do exército da Rei da Síria. Sofria este general sírio de uma doença grave da pele(parecida com a lepra). Foi-lhe sugerido que o profeta Eliseu, de Israel, homem de Deus, o poderia curar. Então Naamã, com cartas de recomendação do Rei da Síria, deslocou-se, com um majestoso e rico acompanhamento, até ao Rei de Israel. Este porém confessou escandalizado a sua incapacidade de resposta para este pedido. Naamã foi, então, ao encontro do profeta Eliseu. A atitude do profeta, porém, foi estranha. Em vez de receber o ilustre visitante mandou por um servo a ordem para ele se banhar sete vezes no Rio Jordão. O general ficou desconcertado e furioso com esta ordem. “Que tem o rio Jordão mais que os rios de Damasco?” questionou. Mas, aconselhado por um membro se seu séquito, sempre se foi banhar no rio Jordão. A obediência resultou. Ficou curado e com a pele limpa e sadia como a de uma criança. Então o general Naamã, homem poderoso e dominador, foi ter novamente com o profeta, confessou humildemente a sua fé. e declarou a sua disposição de, no futuro, servir unicamente o Deus verdadeiro. Naamã percorreu um caminho de humilhação. Mas esse caminho levou-o à fé e restituiu-lhe a vida com qualidade. Que mensagem podemos perceber nesta narrativa? Há um Deus verdadeiro que restitui ao homem a sua dignidade, que ergue os que estão prostrados e os liberta das suas alienações. Ou seja, a fé é um dom que dá qualidade à vida, liberta, cura, ilumina. Mas para alcançar este dom, Naamã e todos nós temos de percorrer um itinerário de conversão e de crescimento que passa pela humildade e pela perseverança. Por outro lado, o dom de Deus apresenta-se revestido em gestos e sinais tirados da nossa pobreza humana, como é o caso a água do rio Jordão. Podemos entender nestes gestos e mediações uma referência aos sacramentos, designadamente ao Baptismo, em que Deus nos comunica a vida nova em Cristo através de palavras e elementos humanos. No episódio dos leprosos, narrado no Evangelho de S. Lucas, encontramos também alguns ensinamentos sobre o itinerário e as atitudes da fé. Este trecho do evangelho destaca, na verdade, algumas atitudes dos leprosos que são fundamentais na vida de fé: antes de mais, a atitude de súplica, de reconhecimento da fragilidade e de confiança na ajuda divina. Depois, também lhes é proposto um itinerário e um rito através da mediação dos sacerdotes. Eles põem-se a caminho e recebem o dom da cura. Um dos leprosos regressa e vem agradecer a Jesus que lamenta a falta de gratidão dos outros nove. Deste modo, propõe a todos os crentes a atitude de acção de graças e de louvor como fundamental na vida cristã 3-A fé conhecida, celebrada, vivida e feita oração. Como o percurso de Naamã e dos dez leprosos, também a catequese é um itinerário para a vida: Não é apenas conhecimento da doutrina. Não pode dirigir-se apenas à memória e à inteligência. Precisa de atingir também o coração, a vontade, a sensibilidade. É uma forma de orientar a vida caracterizada por atitudes que as personagens das leituras deste domingo nos propõem: atitude de humildade, que nasce da consciência das nossas insuficiências e fragilidades; atitude de súplica de quem confia em Deus; atitude de atenção aos sinais da bondade e da beleza de Deus que despertam em nós o louvor e a acção de graças. A fé é, portanto, uma forma de viver que se cultiva. Essa é a função da catequese: não apenas ensinar o catecismo mas sobretudo educar para a vida cristã, ensinando a viver a fé na vida quotidiana. A mensagem da Semana Nacional convida-nos, neste ano, a reflectir nesta identidade da catequese: É um itinerário para a vida, ou seja, um caminho que se aprende, um projecto de vida que se cultiva. Assim afirma a nota da Comissão Episcopal da Educação Cristã: “a catequese procura oferecer um itinerário de crescimento nas várias dimensões da vida cristã: no conhecimento do mistério de Deus; na união com o Senhor na oração e na celebração da fé; na adesão à vontade de Deus no agir quotidiano e no testemunho da caridade. Os frutos da catequese hão-de notar-se também na atitude de oração, na participação na Eucaristia, na integração na comunidade cristã e no testemunho do evangelho na vida quotidiana. Como esclarece o Directório Geral de Catequese: “ Em virtude da sua própria dinâmica interna, a fé implica ser conhecida, celebrada, vivida e feita oração”(DGC 84). Só quando conduz ao conhecimento da fé, à oração, à celebração, à comunidade e à caridade, a catequese se pode considerar verdadeiramente realizada. 4-A Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã. Damos hoje, dia 10 de Outubro, início ao Ano da Eucaristia que irá decorrer até Outubro do próximo ano 2005. Como lema propõe-nos o Santo Padre: “A Eucaristia, fonte e ápice (ou cume) da vida cristã”. A celebração da Eucaristia não é apenas o prémio que está no final do itinerário de catequese. É o alimento e a fonte que acompanha o crescimento da fé, é a escola onde cultivamos as atitudes que identificam o discípulo de Cristo: a súplica humilde de quem reconhece a sua condição de pecador; o louvor e acção de graças; a conversão permanente aos caminhos do evangelho; a alegria do encontro com o Ressuscitado que ilumina e renova a nossa vida com a esperança. A Eucaristia é igualmente o vínculo da unidade e da comunhão com o Senhor e com os irmãos, onde aprofundamos a união com o Senhor e a fraternidade humana. É ainda a escola de santidade onde cultivamos a perfeição da caridade e a nossa vida se transforma em oração. Deste modo, a Eucaristia dá vida e realização à catequese. Sem o encontro com o Senhor na Eucaristia a catequese ficaria estéril e enfadonha. Que a Eucaristia seja a fonte de água viva em que recebemos o Espírito Santo que dá gosto e alegria no caminho do crescimento da fé.

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