«Caso Williamson»: Papa admite erro sobre bispo negacionista

Padre Maciel e abusos sexuais são outros temas abordados em livro-entrevista

Bento XVI admite que não teria revogado a excomunhão do bispo Richard Williamson, um dos quatro consagrados no ano de 1988 pelo arcebispo Lefebvre, se tivesse tido conhecimento das suas posições negacionistas.

“Da nossa parte, foi um erro não estudar e examinar suficientemente a questão”, indica o Papa no livro-entrevista «Luz do mundo», que foi apresentado no Vaticano neste dia 23 de Novembro.

A excomunhão foi levantada em Janeiro de 2009, altura em que ganharam relevo as declarações do bispo Williamson – “que era anglicano e dos anglicanos passou directamente para Lefebvre” – sobre a inexistência de câmaras de gás nos campos de concentração do regime nazi, durante a II Guerra Mundial.

Sobre outra polémica envolvendo o mundo judaico, o Papa diz que se informou sobre o conteúdo dos arquivos do Vaticano antes de aprovar o decreto sobre as “virtudes heróicas” de Pio XII, do qual fala como “um dos maiores justos”.

Na entrevista, Bento XVI fala do padre Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, que apresenta com palavras duras: “Um falso profeta, que levou uma vida imoral”.

Para o Papa, o caso foi “enfrentado muito lentamente e com atraso”, embora hoje a congregação esteja sob orientação directa do Vaticano e as acusações contra o sacerdote mexicano tenham sido comprovadas.

Em relação ao “enorme choque” dos abusos sexuais, Bento XVI diz que em 2002, quando a questão surgiu nos Estados Unidos da América, a Santa Sé deveria ter dito “expressamente a todos os países: descubram se estão na mesma situação”.

Ainda sobre esta matéria, o Papa declara compreender que as vítimas se afastem da Igreja. “É-lhes difícil continuar a acreditar que a Igreja seja uma fonte de bem, que comunica a luz de Cristo, que a Igreja ajuda as pessoas na vida. Consigo compreender isto”, afirma.

Bento XVI fala por diversas vezes em “sujidade” para indicar o pecado na Igreja, à imagem do que fizera nas meditações para a Via-sacra de 2005, pouco antes de ser eleito.

O livro “Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos” nasce de uma conversa entre Bento XVI e Peter Seewald – que já por duas vezes tinha entrevistado Joseph Ratzinger, ainda cardeal –, na residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho.

A obra estará disponível em Portugal no final de Novembro.

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