Casa do Gaiato mergulhada numa onda de indignação

As críticas da auditoria realizada pela Segurança Social à Casa do Gaiato não retiram a esperança ao Pe. Acílio Fernandes, director nacional da Obra da Rua, motivado pela onda de solidariedade que se gerou em torno da instituição. “Há uma série de personalidades com grande prestígio, de todos quadrantes, que estão connosco nisto, interessados em defender-nos e em repor a verdade”, assegurou o responsável em declarações à Agência ECCLESIA. O Pe. Acílio contestou desde logo o relatório da Inspecção-Geral do Ministério da Segurança Social (IGMSS), ontem divulgado pelo jornal Público, no qual se traça um cenário de repressão e clausura e se diz que há indícios de maus tratos dentro das cinco casas do Gaiato. “O que está em questão é a pedagogia da Casa do Gaiato, cientificamente comprovada como a mais certa, o que está em causa é toda a nossa vida”, lamenta. O responsável não consegue calar a sua indignação e atira na direcção dos inspectores: “quem vem aqui é incapaz de ver as coisas, não conseguem perceber a vida dos pobres”, explica. “São pessoas que têm grandes ordenados, chegam em bom carros do Estado para fazerem uma hora e meia de trabalho por dia e depois vão-se embora para fazer relatórios em que ficam bem, a dizer mal de nós”, declara. Alguns responsáveis da Obra da Rua referiram que o que estará por detrás do relatório é apenas “o interesse de algumas pessoas e de alguns lobies da Segurança Social”, sabendo-se que a Casa do Gaiato é uma obra privada, que não recebe dinheiro da Segurança Social. O Pe. Acílio Fernandes não avança directamente para esta explicação, mas refere que “a Casa do Gaiato é contra os gabinetes, trabalhamos na rua, com os rapazes, educamos com a vida”. O ministro da Segurança Social, Fernando Negrão, assegurou ontem que já foram tomadas medidas para salvaguardar os interesses das crianças da Casa do Gaiato e defendeu que o modelo de funcionamento da instituição deve ser repensado. “Às vezes o que acontece é que as pessoas estão a trabalhar de boa-fé, mas o modelo nem sempre é o mais adequado”, disse Fernando Negrão aos jornalistas, à saída do debate do Orçamento de Estado. Fernando Negrão disse que o Ministério da Segurança Social, da Família e da Criança está a trabalhar “na construção de equipas” que envolvam “técnicos da Casa do Gaiato e da Segurança Social, no sentido de intervir em cada um dos estabelecimentos, sempre em conjugação entre os responsáveis” da Obra do Padre Américo e a Segurança Social. Sobre a ausência de técnicos qualificados, o Pe. Acílio recorda que as instituições, que recebem cerca de 500 crianças, contam com “psicólogos, juristas e sociólogos” e que eles próprios “estão absolutamente indignados”. “Nós estamos abertos a tudo o que seja bom para os rapazes, mas os técnicos do Estado só iriam dar cabo do nosso trabalho porque vêm até nós para impor”, sublinha. Resposta à Igreja Na última assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), esta assumiu uma posição clara, pedindo respeito pela “especificidade das instituições” eclesiais e manifestando o desejo de que os mecanismos de avaliação e inspecção “não funcionem a partir de modelos organizativos uniformes”. D. José Policarpo, presidente da CEP, considerou esta área como “um dos mais expressivos campos de incidência da colaboração entre o Estado e a Igreja” e sublinhou que “uma certa originalidade pedagógica e organizativa é possível e desejável”. O Pe. Acílio Fernandes assegura à Agência ECCLESIA que a recente polémica em torno da Obra do Padre Américo “é uma resposta às posições da CEP”. Já em 2002, uma Nota do Conselho Permanente da CEP, sobre o problema da Pedofilia, referia-se á Casa do Gaiato como “uma Instituição respeitável” e dirigia “uma palavra muito especial de solidariedade fraterna e solicitude pastoral, às Casas do Gaiato e à obra dos Padres da rua”, “Como obra da Igreja que é, uma Casa do Gaiato tem de ter uma vigilância redobrada na defesa das crianças, um critério exigente na escolha dos educadores, a persistência em criar aquele clima alegre e sadio a que nos habituaram e que há-de ajudar a resolver os problemas que possam surgir”, advertiam, já nessa altura, os Bispos portugueses.

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