A Cáritas Portuguesa pede que a ética e as referências morais sejam práticas retomadas nos negócios e apela à responsabilidade social das empresas para que evitem os despedimentos. Esta é uma das conclusões da Conferência «Responsabilidade dos cidadãos no combate à crise económica e social» – organizada no culminar da Semana Nacional da Cáritas – que a diocese de Lamego acolheu. Este serviço da Igreja Católica pediu uma acção colectiva “com fins solidários, de forma a evitar a dramática situação dos que vivem em pobreza absoluta”. Pede a Cáritas, a dinamização de iniciativas realistas que visem a criação do auto-emprego, apostando em projectos com sustentabilidade económica e também o “aproveitamento de espaços deixados livres por empresas falidas, para os adaptar a novas oportunidades produtivas”. Esta instituição aponta a necessidade de “manutenção das designadas políticas passivas, usufruindo dos direitos de forma consciente e sentido de responsabilidade cívica” ao mesmo tempo que aponta a “valorização das políticas activas, investindo na formação qualificante e fazendo uma boa gestão dos percursos profissionais”. A Cáritas frisa ser necessário compreender que “o desenvolvimento assenta na satisfação das necessidades básicas”, cujas respostas não têm de ser exclusivas do Estado, “porque este não dispõe de recursos ilimitados e nem sempre consegue construir políticas adequadas para responder, com oportunidade e eficiência, a todos os problemas”. A sociedade civil é apontada como capacitada para responder a “iniciativas de proximidade” capaz de solucionar problemas de grande “vulnerabilidade social”. Esta instituição de respostas sociais lança um apelo à poupança para evitar o endividamento e o desperdício dos recursos ambientais. As redes sociais, “preservando o sentido dos valores”, são outra aposta. Confrontada com inúmeros pedidos de ajuda de Norte a Sul do país, a Cáritas pede um esforço na identificação dos problemas escondidos (pobreza escondida), “para que não fiquem, irremediavelmente, desconsiderados na definição das medidas de protecção e integração sociais”. Eugénio Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, sublinhou a premência, durante a Conferência, de se “retomarem valores que têm sido preteridos no desenvolvimento de todos os homens e do homem todo” como um dos caminhos para a solução da crise que estamos a viver, relembrando que “está na hora de inverter o rumo, valorizando mais o que as pessoas são do que têm”. D. Jacinto Botelho, Bispo de Lamego, presidiu à Missa que assinalou o Dia Nacional da Cáritas, sublinhando que “o momento que vivemos comporta circunstâncias peculiares e problemas sociais decorrentes da tão falada crise que tornam porventura ainda mais premente esta vivência”. “Felizmente muitos se vão apercebendo, também cada vez com mais convicção, de que a crise moral e de valores é mais grave ainda, e é a causa última da crise económico-social que se experimenta”, apontou. Indiferença Este Domingo, D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, defendeu que “a indiferença ou insensibilidade às carências sociais são obstrução ao acesso ao Deus vivo que Cristo crucificado mostra. Uma relação com Deus que não abra para uma vida em dom aos outros é falsidade”. Na celebração da Eucaristia transmitida pela RTP, D. Carlos Azevedo frisou que, no dia da Cáritas, “ganha particular vigor a expressão da caridade como lugar do encontro com Deus”. “No corpo do doente, do faminto, do necessitado está o lugar onde Cristo vive, como no sacrário. Alimentar-se de Cristo é construir comunhão com os seres humanos mais desprovidos de bem-estar. Eis a nossa responsabilidade”, atirou. O Bispo Auxiliar de Lisboa deixou um apelo a todos os católicos: “Não deixemos Cristo abandonado e multipliquemos em cada paróquia grupos sócio-caritativos, expressão autêntica do amor de Deus por cada ser humano. Deus assim poderá tocar-se na generosidade das mãos onde transparecer a loucura do seu amor”.